O simpósio Digital Fabrication – A State of Art reuniu no Instituto Universitário de Lisboa, de 9 a 10 de setembro, pesquisadores da área de fabricação digital de alguns dos principais centros de pesquisa na área (ver programação em http://digitalfabricationiscte.wordpress.com/). O IUL (http://www.iscte-iul.pt) é uma instituição pública de ensino universitário, criada em 1972, que tem como objetivos estratégicos a inovação, a internacionalização e o desenvolvimento de uma cultura empreendedora. Está instalado em um belíssimo campus próximo ao centro de Lisboa, projetado pelo premiado arquiteto Raúl Hestnes Ferreira, cuja obra possui influências de Fernando Távora e de Louis Khan. O IUL possui uma Escola de Tecnologias e Arquitectura que oferece licenciaturas em engenharias, informática e arquitetura, além de programas de pós-graduação, e entre eles o recentemente criado mestrado em “Arquitectura e Computação”. O IUL investe atualmente na criação de um laboratório de fabricação digital para atender a esses cursos, e este simpósio representa mais uma iniciativa visando à incorporação das novas tecnologias no ensino da arquitetura.
O simpósio contou com cinco palestrantes estrangeiros - Kevin Klinger da Ball State University, Bob Sheil da Bartlet School of Architecture, Tomas Diez do Institute for Advanced Architecture of Catalunya, Gabriela Celani da Unicamp, e Tobias Bonwetsch da ETH Zurich -, que apresentaram projetos desenvolvidos por alunos de arquitetura e grupos de pesquisadores de suas universidades. Um tema que esteve presente em todas as apresentações foi a necessidade do estabelecimento de convênios com indústrias para a fabricação, em escala real, dos protótipos desenvolvidos nas universidades, como prova de conceito da aplicação das técnicas de fabricação digital em casos reais de arquitetura. Os exemplos apresentados vão desde paredes e colunas em tijolos construídas por um robô até estruturas em aço cortadas a plasma e com dobras feitas por equipamentos controlados a partir de desenhos em CAD.
Durante os dois dias do evento, um workshop de fabricação digital foi oferecido por José Pedro Souza, professor das escolas de arquitetura do Porto e de Coimbra, que defendeu no ano passado tese de doutorado sobre aplicações arquitetônicas da cortiça trabalhada com equipamentos de controle numérico. O trabalho, que foi orientado pelo prof. José Duarte da UTL, propôs renovar e agregar valor a um material tradicional português, utilizado há séculos como isolante térmico, por meio do design e do uso de tecnologias de ponta. O objetivo do workshop foi criar materiais de acabamento personalizados por meio da usinagem de agregados de cortiça e MDF tingido. Os trabalhos desenvolvidos pelos participantes do workshop foram produzidos em uma fresadora CNC de 3 eixos instalada no IUL especialmente para o evento.
Com aproximadamente 150 participantes de diferentes países e tendo como idioma oficial o inglês, o evento mostrou que existe uma grande demanda por informações sobre as aplicações da fabricação digital por parte de jovens arquitetos, e revela uma tendência à inserção dessas novas tecnologias nos currículos de arquitetura europeus, algo que também já vem ocorrendo em algumas escolas do Brasil.
sobre a autora
Gabriela Celani é professora Livre-docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unicamp.