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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
A autora faz uma apreciação crítica da Mostra Internacional de Música em Olinda (MIMO), que em 2011 teve a sua oitava edição.

english
The author makes a critical appraisal of the International Exhibition of Music in Olinda (MIMO), which in 2011 had its eighth edition.

español
La autora hace un análisis crítico de la Exposición Internacional de Música en Olinda (MIMO), que en 2011 tuvo su octava edición

how to quote

LORDELLO, Eliane. MIMO, o festival de Olinda. Drops, São Paulo, ano 12, n. 050.04, Vitruvius, nov. 2011 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/12.050/4079>.



Toda arte aspira à condição da música
Pater, 1839-1894

A Mostra Internacional de Música em Olinda (MIMO) teve a sua primeira edição em setembro de 2004 (1). Já então, repercutia a máxima de Pater, demonstrando êxito em enfocar a música instrumental, do erudito ao eletrônico, incluindo as mais tradicionais e populares manifestações musicais. Além disso, desde sua segunda edição, em 2005, o festival conta com uma concorrida etapa educativa, congregando, em torno do aprendizado da música, profissionais, estudantes e interessados. Para se aquilatar o quão procurada é a etapa educativa, basta dizer que, neste 2011, ela teve setecentos inscritos.

Tive a felicidade de mudar para Pernambuco justamente no ano inaugural da MIMO. Morando primeiro em Olinda e, depois, no Recife, pude constatar, nos cotidianos locais, que o evento deixa marcas para o ano inteiro, instigando a espera pela próxima edição. No fim do ano de 2005, voltei a morar na minha cidade natal, mas jamais deixei de participar da MIMO, em Olinda. Em meu planejamento de viagens, sempre houve uma estada pernambucana no mês de setembro.

É justamente na condição de frequentadora assídua do evento, desde o seu princípio, que venho, mais uma vez, escrever sobre Olinda (2) neste Vitruvius, desta feita, enfocando o festival, na cidade tombada pela Unesco. Vale dizer que desde 2009 as cidades de Recife (PE) e João Pessoa (PB) aderiram à mostra, na qualidade de sedes de concertos. Neste texto, no entanto, somente Olinda, matriz original do evento, será destacada.

Criado e realizado por uma empresa carioca atuante, em âmbito nacional, no mercado cultural e de entretenimento, a MIMO (3) é anualmente promovida e realizada por meio de parcerias, patrocínios e apoios de importantes empresas e instituições. Para o público, a participação no evento é gratuita. É importante ressaltar que eventos culturais desse tipo são enfatizados como recursos para a conservação patrimonial, tanto em cartas patrimoniais, como na literatura específica. A MIMO, portanto, além de contribuir para a educação musical, o turismo e a cultura, cumpre relevante papel para o conhecimento patrimonial de Olinda e sua conservação.

Em termos gerais, o festival acontece do modo como será descrito nas próximas linhas. Os concertos são realizados nas igrejas, sob os auspícios da Arquidiocese de Olinda e Recife e Cúria Metropolitana. Para tais apresentações, o acesso é feito mediante distribuição prévia de senhas, retiradas em instituição pública local, com horário marcado. Para a plateia sem senha, no entanto, há ainda a chance da assistência em telões colocados no adro das igrejas, o que é usual desde a primeira edição do evento. Desde 2005, a mostra passou a promover também apresentações públicas na Praça do Carmo, para as quais não é necessária a retirada de senhas.

Como um evento público, a MIMO deixa entrever, em alguns momentos, o despreparo brasileiro para o trato com a coisa pública. Infelizmente, cumpre notar que isso se manifesta tanto por parte do público, quanto por parte da organização. Cito, a título de exemplo, dois casos por mim presenciados e protestados, na edição deste 2011.

O primeiro caso se deu na retirada de senhas, no dia 7 de setembro. Nessa oportunidade, uma moça que não estava na fila desde o seu início, achou de nela se inserir. Para tanto, alegou ter estado ali desde sempre, como consorte de um rapaz, este sim, na fila desde o começo. Não teve, porém, êxito em sua pretensão, pois, sob o testemunho e protesto do público ali presente desde o íncio da fila (no qual me incluo), ela se viu obrigada a desistir do intento.

No segundo caso, o desacato veio por parte da organização, na noite de 8 de setembro. Nessa ocasião, a fila para a segunda chamada (entrada para os que não conseguiram senha), assistiu à situação doravante relatada. Uma senhora, na fila, defendia ardorosamente o SUS (Sistema Único de Saúde), ao qual tal fila fora comparada por um dos presentes; pouco depois, aproximou-se dela uma conhecida moradora de Olinda. Com seu prestígio, a moradora acionou uma funcionária, trajada ao modo do alto estafe da organização da MIMO, e apontou para a defensora do SUS. Diante disso, a funcionária assinalou, para dois seguranças, a moradora e a defensora do SUS. Imediatamente, por eles conduzidas, a moradora e a defensora do SUS foram passadas à frente de toda a fila, na maior desfaçatez, tendo acesso imediato à igreja da Sé. O público, como era natural, protestou (eu inclusive o fiz diretamente àquela funcionária da alta organização do evento). Embora tenha presenciado outros casos de desrespeito, penso que os dois destacados já são suficientes para ilustrar a necessidade de uma educação voltada a fruir de modo verdadeiramente público o evento.

Voltando ao escopo da mostra, é preciso ainda destacar o cinema. A sétima arte sempre esteve presente na MIMO, com exibição de filmes de temática musical, primeiro no interior das igrejas, e, a partir de 2005, em telões nos adros. Com o progressivo número de exibições ao longo dos eventos anuais, a edição de 2010 incorporou o cinema de modo mais determinante: criou o Espaço MIMO de Cinema no Mercado da Ribeira e o Festival MIMO de Cinema. Além da assistência mais confortável de filmes, essa inovação oportunizou também workshops e memoráveis debates, com consagrados nomes do cinema e da música nacionais. Entre os debatedores dessa edição inaugural de cinema e música, estiveram Plínio Profeta, Walter Lima Jr. e Wagner Tiso, Marco Abujamra, Fred Zero Quatro, Renato L. e Marcelo Gomes. Além dos eventos já citados, o Festival MIMO de Cinema promoveu o Ciclo Cinema Mudo. Nesse ciclo, filmes do cinema mudo eram musicados, ao vivo, por um acompanhamento de piano, resgatando, destarte, um momento muito caro aos primórdios da arte cinematográfica.

Incorporando o cinema, com uma etapa educativa fortemente estruturada, que inclusive levou à formação, em 2008, da Orquestra MIMO, regida pelo maestro Silvio Barbato; e sempre com excelente curadorias musical e cinematográfica, a MIMO é fadada ao sucesso. O prestígio do grande público consagrou o evento e a sua continuidade. Sua longevidade é desejada por todos, olindenses, pernambucanos, brasileiros e estrangeiros. Ecoando-a, só me resta finalizar por uma ovação amplamente ouvida no evento: Bravo, Mimo, bravo!

notas

1
A MIMO acontece anualmente na época do feriado do Dia da Independência do Brasil, 7 de setembro.  Neste 2011, o festival aconteceu entre os dias 5 e 11 de setembro.

2
LORDELLO, Eliane. Feliz aniversário, querida!. Minha Cidade, São Paulo, n. 08.091, Vitruvius, fev. 2008 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.091/1903>; LORDELLO, Eliane. Olinda, primeira capital brasileira da cultura. Minha Cidade, São Paulo, n. 06.063, Vitruvius, out. 2005 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/06.063/1965>.

3
Todo o histórico do evento, sua organização e funcionamento podem ser conhecidos no site oficial MIMO, disponível em: <www.mimo.art.br>. Acesso em: 13 set. 2011.

sobre a autora

Eliane Lordello é Arquiteta e Urbanista (UFES, 1991), Mestre em Arquitetura (UFRJ, 2003) na área de Teoria e Projeto, Doutora em Desenvolvimento Urbano (UFPE, 2008), na área de Conservação Urbana. Pesquisa, sobretudo, os seguintes campos: Memória e Patrimônio Urbanos; Representações Sociais de Arquitetura e Cidade; Poéticas Visuais de Arquitetura e Cidade. Atualmente é analista de projetos e pesquisas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES).

 

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