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drops ISSN 2175-6716

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Leia no artigo de Luiz Marques uma análise da obra "A Noite", do artista plástico Ferdinand Hodler

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MARQUES, Luiz. A Noite, de Ferdinand Hodler. Drops, São Paulo, ano 12, n. 050.06, Vitruvius, nov. 2011 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/12.050/4124>.


A Noite, Ferdinand Hodler. Óleo sobre tela, 1889


Em uma paisagem rochosa, sob uma luz irreal, Ferdinand Hodler (1853-1918) dispõe em linhas paralelas (teorizadas sucessivamente em sua doutrina do paralelismo) sete personagens nuas e adormecidas, quatro mulheres e três homens. Os modelos das duas figuras femininas do primeiro plano são Augustine Dupin, sua companheira e mãe de seu filho, e Bertha Stuckie (de costas), com quem esteve brevemente casado em 1889. Enquanto pintava "A Noite", Hodler encontrava-se justamente entre as duas mulheres, pois em agosto desse ano separa-se de Bertha para retornar à Augustine. A figura à direita, adormecida e recostada em um rochedo, é um autorretrato.

Ao centro, o artista retrata-se novamente, mas agora em vias de ser possuído por um aterrorizante vulto da morte, contra o qual se debate em pânico. Totalmente envolto em negro, o espectro oprime seu ventre, em uma posição que não é sem lembrar o Incubus sobre a jovem adolescente adormecida ou desfalecida, de Füssli, nas múltiplas versões de Nightmare*, sua mais famosa composição cujo protótipo remonta a 1781.

No verso do quadro, Hodler escreve: "Muitos são os que adormecem à noite, mas não despertam ao amanhecer", lúgubre adágio que bem resume a obsessão pela morte que acompanha sua vida até 1889, marcada pelo extermínio de seus familiares.

De fato, aos sete anos, Ferdinand, primogênito de uma família muito pobre de seis irmãos, perde seu pai, vítima de tuberculose. Em 1865, é a vez de sua mãe, Margarete, falecida aparentemente também de tuberculose, aos 39 anos de idade. Entre esta data e 1889, quando pinta esta composição, a mesma moléstia terá levado sucessivamente todos os seus cinco irmãos e irmãs. Recordando-se desses anos, Hodler escreverá: "Parece que havia sempre um cadáver em casa e que as coisas tinham que ser assim".

Por outro lado, Hodler entende atribuir um significado mais geral à sua obra, tal como se lê em um manuscrito conservado na Biblioteca de Genebra (apud Hirsch, 1982, p. 71):

"Presentemente, minha obra mais importante, na qual me revelo sob uma nova luz, é 'Noite'. Sua aparição é dramática. Não se trata de uma noite, mas de um conjunto de impressões da noite. O fantasma da morte não surge aí para significar que muitos homens são surpreendidos pela morte no meio da noite, como afirmou a Gazette de Cologne, mas aí está como o mais intenso fenômeno noturno. O colorido é simbólico: estes seres adormecidos estão cobertos por panos negros; a luz é similar à do anoitecer após o crepúsculo, o qual cria um efeito preliminar à noite. Mas o mais marcante é o fantasma da morte. Este modo de representá-lo, ao mesmo tempo harmonioso e sinistro, torna visível o desconhecido, o invisível".

A "Noite" não se reduz, portanto, à dimensão biográfica, mas se reúne a uma tradição visionária romântica bem conhecida, que, partindo de Füssli, atingia as obsessões de Max Klinger, Alfred Kubin e outros, na qual fobias indistintas, pulsões de morte e erotismo, intimamente interligadas, vinham determinar todos os desenvolvimentos dominantes da sensibilidade germânica.

A monumental tela foi, como se sabe, banida por razões morais pelo Conselho Municipal de Genebra do Salão de Arte de 1891. Hodler expõe-na então no Palais Electoral, outro espaço da mesma cidade (em que se fixara desde 1872), cobrando 1 marco pelo ingresso. A controvérsia atrai um público numeroso e o artista arrecada fundos para expor sua obra no Salon du Champ de Mars, em 1891.

Em Paris, ela chamará a atenção de Pierre Puvis de Chavanne, artista por quem Hodler nutre verdadeira veneração. Era o começo de um reconhecimento internacional que o levaria a aderir, a partir de 1892, a uma temática mais serena, expressa em obras como "Comunhão com o Infinito", no Kunstmuseum de Basileia, em "Sonho" (1897-1903), conservada em uma coleção particular em Zurich, e em paisagens de grande variedade sentimental.

nota

NE
Texto originalmente publicado em MARE – Museu de Arte para a Pesquisa e Educação <www.mare.art.br/detalhe.asp?idobra=2837>.

bibliografia

S. L. Hirsch. Ferdinand Hodler. Londres: Thames and Hudson, 1982, p. 8, 74.

sobre o autor

Luiz Marques é professor do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas – IFCH Unicamp.

 

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