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drops ISSN 2175-6716

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A exposição de fotografias de Leandro Venâncio Coser sobre casas rurais tradicionais construídas em Gonçalves, Serra da Mantiqueira, Minas Gerais apresenta o domínio da arquitetura vernacular que expressa a interação entre e seu meio físico.

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SANTOS, Cecília Rodrigues dos. O chão que continua. Arquitetura rural mineira em exposição. Drops, São Paulo, ano 13, n. 061.05, Vitruvius, out. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/13.061/4541>.


"É sair da cidade e logo surgem à beira da estrada (...) feitas de ‘pau’ do mato próximo e da terra do chão como casas de bicho, servem de abrigo para toda a família (...) e ninguém liga de tão habituado que está, pois ‘aquilo’ faz mesmo parte da terra como formigueiro, figueira brava e pé de milho – é o chão que continua... Mas justamente por isto, por ser coisa legitima da terra, tem para nós, arquitetos, uma significação respeitável e digna”.
Lucio Costa, “Documentação Necessária”, 1938.

Ninguém melhor do que o arquiteto Lucio Costa para abrir a apresentação de uma exposição de fotografias sobre as casas rurais tradicionais construídas em Gonçalves, Serra da Mantiqueira, Minas Gerais. Mais conhecido por ter sido responsável pelo desenho da cidade de Brasília, Lucio Costa foi um dos primeiros arquitetos a se interessar pelo estudo, pela valorização e pela preservação do patrimônio constituído pela arquitetura vernacular do Brasil, do qual fazem parte as obras registradas por Leandro Venâncio Coser.

As casas apresentadas podem ser incluídas no domínio da arquitetura vernacular porque consideradas como a resposta da comunidade ao seu meio cultural, social, econômico e físico, utilizando materiais, técnicas e formas construtivas determinadas pelo clima, pela geologia, pela geografia, pela economia e pela cultura locais, e cuja construção não recebeu orientação de técnicos e profissionais, mas seguiu os ensinamentos passados de geração a geração. São casas que deitam raízes e cultivam e dão sentido ao chão onde se estabelecem. Casas que são a expressão do saber fazer de muitas gerações, com feições e cicatrizes que contam histórias do jeitinho dos avós, reunindo família, amigos, compadres e afilhados ao redor do fogo, seja na cozinha, no puxado ou no terreiro, para compartilhar o trabalho, as rezas e as festas.

As fotografias aqui expostas são parte de um trabalho acadêmico de Iniciação Cientifica realizado pelo aluno de arquitetura Leandro Venâncio Coser, sob minha orientação, e com o apoio de bolsas PIBIC da Universidade Presbiteriana Mackenzie e do CNPQ. O objetivo principal da pesquisa é contribuir para o estudo da arquitetura vernacular e sua preservação através do inventário e a documentação das casas rurais na Serra da Mantiqueira, identificando e registrando a permanência e a transformação das técnicas construtivas tradicionais.

Se a facilidade da comunicação e o encurtamento das distâncias trouxeram conforto e melhorias para as residências rurais, também contribuíram para a descaracterização, para a perda de identidade e da tradição construtiva, quando não para o abandono de muitas delas. Mas a pesquisa de campo identificou várias unidades razoavelmente bem conservadas, e outras pelo menos em condições de serem salvas, motivando ainda mais a extensa revisão bibliográfica, o levantamento cadastral, o registro das técnicas construtivas.

Conduzido com o rigor esperado de uma pesquisa acadêmica, o trabalho contou ainda com uma motivação especial: o entusiasmo compartilhado pelo aluno - filho de Cambuí e afilhado dos Venâncios – e pela professora – filha adotiva da Terra Fria há mais de dez anos. Desde o início nós consideramos a pesquisa também como um meio de devolver à população de Gonçalves parte importante de sua tradição e de sua história, e por isso esperamos que a exposição possa despertar não só o interesse pelo registro fotográfico e pela documentação, como também pelo patrimônio da cidade, gerando ações no sentido de valorizá-lo e preservá-lo. Gostaríamos, enfim, que as palavras de Lucio Costa registradas a seguir, inspiradas por outras casas igualmente singelas e brasileiras, pudessem fazer tanto eco e sentido como fizeram para nós durante este trabalho: “vendo aquelas casas (...) de surpresa em surpresa, a gente como que se encontra, fica contente, feliz, e se lembra das coisas esquecidas, de coisas que a gente nunca soube, mas que estavam lá, dentro de nós”.

nota

NE
O presente texto é a apresentação da mostra Arquitetura rural mineira em exposição, Clube Recreativo de Gonçalves MG, de 19 a 28 de outubro de 2012. A exposição de fotografias das casas rurais da região acontece no âmbito do II Festival de Gastronomia e Cultura da Roça.

sobre a autora

Cecilia Rodrigues dos Santos é arquiteta, com mestrado pela Universidade de Paris X-Nanterre/França, e doutorado pela FAU-USP, professora adjunta e pesquisadora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, tem como principais temas de especialização e trabalho a arquitetura moderna e contemporânea e a preservação do patrimônio cultural.

 

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