Planos de fuga – uma exposição em obras foi concebida a partir do convite do Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo para se pensar uma exposição site-specific em seu edifício, no centro histórico e financeiro da maior cidade da América do Sul. O termo site-specific (que pode ser traduzido como sítio específico) surge no contexto da renovação artística dos anos 1960 e 70, e sugere a criação de obras especificamente para contextos espaciais, físicos e funcionais, resultando numa arte cujo transporte para outras situações representa prejuízo de integridade e significado. São obras que, de certo modo, se confundem com os locais para os quais foram criadas e deles se nutrem de maneira vital.
Cinco artistas da exposição – Carla Zaccagnini, Cristiano Rennó, Gabriel Sierra, Marcius Galan e Sara Ramo – apresentam obras inéditas, criadas especificamente para diferentes espaços do edifício, em resposta a características físicas, simbólicas e estéticas do mesmo. Três artistas – Cildo Meireles, Renata Lucas e Rivane Neuenschwander – foram convidados a recriar obras cujos sentidos são ativados e potencializados no CCBB. Obras inéditas no Brasil de três artistas – Claudia Andujar, Gordon Matta-Clark e Robert Kinmont – foram reunidas numa sala especial, criando uma espécie de núcleo histórico que remonta ao interesse destes artistas pela paisagem, pela cidade e pela arquitetura. Completando a lista, Mauro Restiffe foi convidado a conceber um livro que documenta o processo de feitura da exposição, a ser lançado durante a mostra.
A escolha de cada artista para a exposição respondeu não só a um interesse pelo edifício e por suas características arquitetônicas, mas também por seu passado como instituição bancária de relevância histórica, seu presente como instituição cultural funcionando num edifício adaptado e seu entorno urbano, rico de histórias e contradições. O título da mostra faz alusão não só a um célebre romance de Adolfo Bioy Casares, Plan de Evasión (1945), mas também aos diagramas com rotas de escape encontrados em grandes edifícios. As duas referências sinalizam um amplo espectro, entre as possibilidades libertárias abertas pela ficção e as restrições espaciais oferecidas pela arquitetura. O belo prédio de Gustavo Pujol, de 1901, é, assim, uma plataforma ao mesmo tempo cheia de possibilidades e de limites para artistas e curadores.
Como parte da programação oficial da exposição, foi incluída a exibição de dois filmes: o clássico da nouvelle vague francesa Bande à Part (1964), de Jean-Luc Godard, e o clássico do cinema marginal brasileiro O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla, remetendo a um universo urbano de transgressão próximo ao que buscamos conferir à exposição. Convidamos o espectador a usar este guia que tem nas mãos como instrumento de navegação para percorrer o espaço, descobrindo o edifício e suas obras, e criando seus próprios caminhos e sentidos – a partir da exposição para o mundo.
nota
NE
O presente artigo é texto curatorial da mostra Planos de fuga – uma exposição em obras, Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo (CCBB-SP), 27 de outubro de 2012 a 6 de janeiro de 2013.
sobre os autores
Jochen Volz, crítico de arte, é ex- curador de arte de Inhotim e atual curador-chefe da Serpentine Gallery.
Rodrigo Moura, crítico de arte, é curador de arte de Inhotim.