A cidade é, sem dúvida, a grande invenção da humanidade e o século XXI caracteriza-se pela sua condição urbana. Pela primeira vez na história, a porcentagem de habitantes das cidades ultrapassou a rural, o que atribui grande responsabilidade aos que interferem mais diretamente na sua dinâmica, levando-nos a distinguir profissionais que se destacam em compreender sua complexidade e em propor alternativas aos seus inúmeros problemas.
Hector Vigliecca não só enfrenta esse desafio, como contribui a sua reinvenção, para quem a instabilidade que caracteriza a cidade contemporânea, fruto das tensões decorrentes da sua própria vitalidade e da sua contínua transformação a exigir uma atualização constante, é também sua grande riqueza.
Hector Vigliecca nasceu no Uruguai, formou-se arquiteto em 1968 na Faculdad de Arquitectura de la UDELAR – Universidad de la R.O.U, e mudou-se para o Brasil no início da década de 1970. Desde então tem desenvolvido projetos que, independentemente do programa ou da escala, exploram a sua condição urbana e suas possibilidades de valorizar ou criar cidade, entendida como lugar de trocas e convivência. Essa prática, que vem se fortalecendo desde sua formação, constitui o grande diferencial das suas propostas.
Sem ignorar o passado e sem medo de olhar para frente, seu trabalho representa uma alternativa diferenciada do que se tem feito nas cidades brasileiras, seja na reinvenção de situações urbanas, seja na invenção da própria condição de cidade. Da revitalização da rua Oscar Freire à reurbanização das favelas, seus projetos buscam a melhor relação com cidade, identificando a cultura do lugar, criando espaços de convivência, e valorizando a dimensão pública.
Com notória participação em concursos, que somam até hoje 96 propostas, Hector obteve 40 premiações. Destacamos entre seus trabalhos mais recentes: Praça dos Três Poderes (Florianópolis); Morar Carioca (Rio de Janeiro); Renova SP – Morro do S e Ribeirão dos Perus; Jardim Vicentina; Colinas d’Oeste, Socó e Portais; Parque Novo Santo Amaro; Heliópolis Gleba H, este último em construção. Esses seus projetos recém inaugurados buscam restituir a urbanidade, por meio da intersecção ponderada de uma nova estrutura urbana com a estrutura pré-existente, configurando-se assim um novo território.
Seus projetos revelam as tensões que vivem as cidades contemporâneas, as quais busca reforçar e não amenizar, pois entende que a riqueza urbana está na convivência da diversidade, e que a habitação de interesse social não é um problema de quantidade, nem de custo, nem de tecnologia, mas sobretudo de construção da cidade.
sobre a autora
Mônica Junqueira de Camargo, arquiteta, professora associada da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo na área de história da arquitetura contemporânea, editora-chefe da Pós- Revista do Programa de Pós-graduação da FAU-USP, ex-conselheira do Conpresp.