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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Aurélio Martinez Flores – ex-aluno de Candela e Gonzales Reyna, e ex-membro da equipe de Mies van der Rohe – morre no quase completo ostracismo e fica condenado a habitar “a solidão das coisas perfeitas”, lugar destinado a Luis Barragán por Álvaro Siza.

how to quote

SANTOS, Cecília Rodrigues dos. Aurélio Martinez Flores (1929-2015). Uma homenagem. Drops, São Paulo, ano 15, n. 093.02, Vitruvius, jun. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/15.093/5563>.


Foram muitos os projetos desenhados pelo arquiteto mexicano Aurélio Martinez Flores em quase 60 anos de exercício da profissão. Muitos objetos e várias caixas. Muitas caixas brancas, outras de vidro, todas elas parecidas e absolutamente diferentes entre si, desafiando a percepção daqueles que acreditam que todas as caixas ficam iguais quando decidem ser arquitetura, e que é possível abrir caixas sem desfazer nós.

Na introdução do livro Aurélio Martinez Flores – arquitetura, André Correa do Lago, surpreso, chama a atenção dos leitores para o fato de que a maior parte dos projetos do arquiteto mostrados ali nunca havia sido publicada. Uma rápida pesquisa realizada na base de dados Índice da Arquitetura Brasileira, confirmou a presença, em 2008, de onze artigos sobre o arquiteto em publicações brasileiras, distribuídos entre o ano de 1971, seguido de dez anos de silêncio, e o ano de 2003. O artigo para a revista Arqtexto n.13, da FAU UFRGS, “Aurélio Martinez Flores: exercícios de colagem sobre fundo branco”, a ser publicado em breve na revista Arquitextos, que me foi encomendado com insistência pelo editor, o arquiteto Carlos Eduardo Comas, surpreendentemente continua invicto como a única publicação acadêmica sobre a obra do arquiteto.

Difícil entender este silêncio, ainda mais se nos debruçarmos sobre a obra desse arquiteto que teve Félix Candela e Gonzales Reyna como professores, participou da equipe de Mies van der Rohe no projeto para a sede da Bacardi em cidade do México e trabalhou na Knoll Internacional pela qual veio ao Brasil em 1960, aqui se estabelecendo. Em São Paulo foi diretor do departamento de projetos da loja Forma, que representava a Knoll no Brasil, de onde saiu em 1970 para abrir sua loja, a inter/design, e desenvolver seus próprio projetos. Desenhou e construiu objetos, casas, interiores, lojas, restaurantes, edifícios.

Se a obra de alguns arquitetos que já foram ilustres companheiros de ostracismo de Flores – como Miguel Forte, Lina Bo Bardi, Rino Levi, Franz Heep, entre outros – já têm merecido, desde os anos 1990, pesquisas e publicações, o fato é que lá ficaram as caixas de Flores no limbo dos recusados, resistindo na sua irritantemente bela simplicidade, a habitar “a solidão das coisas perfeitas”, este melancólico e poético lugar destinado ao seu conterrâneo Luis Barragán por Álvaro Siza, bem lembrado por Alberto Campo Baeza.

A razão dessa divulgação ainda discreta, quase bissexta, pode ser, entre outras, um certo estigma que condenou os arquitetos que ousaram perseguir a sofisticação e até um certo luxo em projetos de arquitetura e de vida modernos, principalmente ao longo dos anos 1960/70, e principalmente em São Paulo. Correa do Lago atribui este significativo silêncio editorial também à personalidade do arquiteto, ao seu perfil discreto, quase recatado, sempre fiel a sua formação e aos seus princípios, indiferente a modas ou manifestos, que nunca se preocupou em “fazer escola”, respeitoso da tradição seja a barroca de origem ou a moderna de formação.

Mais do que justa uma homenagem, mesmo que singela, nesse momento em que Aurélio Martinez Flores nos deixa. E ao pensar que forma esta homenagem poderia ter, logo me ocorreu uma caixa, mas uma caixa de lembrar, uma caixa de referência que marcasse de alguma maneira sua passagem e apontasse para a importância de sua obra. Uma caixa como ele gostaria, uma caixa branca: branco de origem, branco de precisão, branco de luxo, branco de despojamento, branco de recato, branco de modernidade, branco de raiz, branco elo de uma vida e de um trabalho, porque este momento não poderia passar em branco.

sobre a autora

Cecilia Rodrigues dos Santos é arquiteta, com mestrado pela Universidade de Paris X-Nanterre/França, e doutorado pela FAU-USP, professora adjunta e pesquisadora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, tem como principais temas de especialização e trabalho a arquitetura moderna e contemporânea e a preservação do patrimônio cultural.

 

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