Ordem e caos, acúmulos e vazios. Múltiplas perspectivas em tramas sutis de linguagens.
Nos trabalhos de Dolly Michaviloska (1) nos defrontamos com os dilemas e a poética das paisagens urbanas. São pinturas e desenhos simultâneos, nos quais rigorosas estruturas abstratas, ora densa matéria, resultados de colagens; ora delicados traçados a bico de pena, revelam fragmentos sempre incompletos da urbe.
Justapostos, inclinados ou mesmo em queda livre, esses módulos geométricos – paralelepípedos, pirâmides e, por que não, arquiteturas –, constroem, por meio de subversões da perspectiva, múltiplas visadas.
Não seria essa nossa experiência nas grandes cidades? Como visualizar conjuntos, configurar totalidades?
Há algo inquietante nessas paisagens: elas parecem flutuar, não ancoram.
Mais: é como que se descolassem das figuras duplas em delicados desenhos e pudéssemos captar o momento mesmo de suspensão, elaborado entre os recorrentes jogos de oposições plásticas: pintura/desenho, cor/transparência.
Novamente aqui, a experiência é do sujeito na cidade contemporânea, sua descorporificação diária, como se seu corpo estivesse precariamente ligados por um tênue fio ao real.
notas
NE – texto curatorial da exposição “Paisagens 01 a 06”, de Dolly Michaviloska, curadoria de Martha Telles, Galeria do Térreo do Centro Cultural Justiça Federal, Rio de Janeiro, de 27 de setembro a até 13 de novembro de 2016.
1
Dolly Michailovska nasceu em Sofia, Bulgária. É formada pela FNA, Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, Rio de Janeiro. De 1974 a 2006, foi professora adjunta nas cadeiras Planejamento de Arquitetura e Planejamento de Interiores, Faculdade de Arquitetura da Universidades Integradas Bennett, Rio de Janeiro. Desde 2007, faz parte do “workshop” – “ Análise e Inserção na produção contemporânea”, com Iole de Freitas, EAV Parque Lage.
sobre a autora
Martha Telles é curadora da exposição “Paisagens 01 a 06”.