Em junho de 2016, em um pequeno artigo na revista Drops do portal Vitruvius (1), eu mostrava uma rara descoberta que acabara de fazer: um conjunto de imagens em cores do tramway da Cantareira, o lendário “trem das onze” de Adoniran Barbosa. Eram fotos de 1963, quando o trem já estava prestes a ser desativado.
Volto agora ao assunto porque caiu nas minhas mãos mais uma imagem interessante do trem das onze. Ao contrário daquelas, que o mostravam em seus últimos momentos, esta o registra bem no início da carreira.
Embora não traga nenhuma indicação de data, a foto tem todo o jeito de ser da última década do século 19. É contemporânea, portanto, do primeiro filme exibido pelos irmãos Lumière, L’Arrivée d’un train à La Ciotat (1895). Coincidentemente, também mostra a chegada de um trem numa estação. Mas esta estação é a Cantareira, ponto final da linha de mesmo nome que muito tempo depois seria cantada por Adoniran.
A linha começou a operar em 1893, inicialmente transportando materiais para a construção do sistema de abastecimento de água da cidade. Em 1895, já operava com trens de passageiros como o da foto. Sua estação final, ao que parece, era muito procurada nos finais de semana, pois ficava (e fica até hoje) em um local aprazível, próprio para passeios e piqueniques. A estação ainda está em pé, sem trilhos nem trens, e o lugar virou clube recreativo dos funcionários da Sabesp.
O que eu mais gosto na foto são os personagens que aparecem nelas. São doze ao todo: 8 homens, uma mulher e três crianças. Pelas roupas e fisionomias, não me parece que estejam ali para piqueniques. Acho mais provável que sejam, na maioria, trabalhadores da ferrovia e do “Restaurant Fabien”, que, como vemos, funcionava em frente.
notas
NA – A foto foi parar em Lamadelaine, pequena cidade em Luxemburgo. Foi posta à venda na internet por 20 euros e retornou a São Paulo em 2017.
1
JAYO, Martin. Quaiscalingudum. Iconografia do Trem das Onze de Adoniran Barbosa. Drops, São Paulo, ano 16, n. 105.08, Vitruvius, jun. 2016 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/17.105/6078>.
sobre o autor
Martin Jayo é professor da EACH-USP e editor do blog “Quando a cidade era mais gentil”.