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drops ISSN 2175-6716

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Envolto em crise institucional e financeira, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM-Rio pretende vender a obra de Jackson Pollock de seu acervo para financiar melhorias e pagar dívidas.

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CHIARELLI, Tadeu. O MAM-Rio e o descarte de uma obra de arte. Sobre a venda de obra de Jackson Pollock para pagar dívidas. Drops, São Paulo, ano 18, n. 126.04, Vitruvius, mar. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.126/6916>.


Jackson Pollock, pintura nº 16, 1950
Foto divulgação [MAM-Rio]


A decisão da Presidência do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM-Rio em vender a obra de Jackson Pollock (1912-1956) continua inabalável. Pelo jeito, a proposta de repensar a venda da pintura (doada ao Museu por Nelson Rockefeller em 1954) levantada pelo Presidente do Ibram foi ignorada, ainda mais depois que o Ministério da Cultura (ao qual o Ibram é subordinado) o desautorizou, apoiando a proposta de venda pelo Museu. A imprensa aqui e ali comenta o caso. Ontem a Folha de S.Paulo publicou uma matéria sobre o assunto, hoje nada. O Estadão de hoje estampou uma matéria insossa sobre o assunto, matéria burocrática dando voz ao MAM-Rio, a um apoio explícito à decisão e ao lamento de um respeitável comerciante de arte que parece pressentir que Inês é morta.

A quem interessa a venda de um Pollock para sanar décadas de indigência administrativa? A quem interessa defender a venda dessa obra de Pollock, única em acervos brasileiros, desqualificando-a por ser uma peça "menor" do artista norte-americano? Um museu, antes de qualquer outra responsabilidade tem o dever de guardar obras de arte, preservá-las, estudá-las e divulgá-las. Não adianta vender obras de seu acervo para sanar questões administrativa, ou mesmo incrementar ações educativas. Ora, qualquer ação educativa dentro de um museu deve participar de ações que surjam de projetos que tenham como foco a disseminação das obras que guarda. Mas no Brasil parece de fato que muitos, muitos poucos estão preocupados com museus, ainda mais com museus de arte. Tem aqueles que preferem visitar os museus norte-americanos e europeus. Outros nem isso. Tem gente, por outro lado, que acredita que o museu deve ser um espaço de inclusão social e, dentro dessa perspectiva (louvável em muitos aspectos), deixam em segundo plano a vocação primordial dos museus de arte, apontada acima. Museus com acervos fracos ou sem acervos, podem ser qualquer outra coisa, menos museus. Daí a importância dada ao fortalecimento dos acervos.

Vender a obra de um acervo para, com a verba arrecadada, comprar mais obras que tornem ainda mais significativos certos núcleos desse mesmo acervo é a única justificativa para qualquer venda. No entanto, quando se lê a declaração do Presidente do MAM-Rio no Estadão de hoje, nota-se que esse objetivo é o último dos últimos. Vejamos:

“Este fundo [conseguido com a venda do Pollock] possibilitará uma autossustentabilidade por pelo menos por 30 anos, de modo a que o MAM poderá fazer planejamentos a curto, médio e longo prazo, fazer melhorias na infraestrutura, aumentar pessoal, e atualizar o acervo de arte brasileira, preenchendo as lacunas existentes, adquirindo obras de artistas contemporâneos” (1).

Como se vê, a ampliação do acervo é a última das prioridades do museu. E me pergunto: qual o sentido em vender uma obra do pós-guerra e já pertencente ao acervo, se o propósito do museu é aumentar o núcleo de arte contemporânea? Não passa pela cabeça dele que o Pollock já pertencente à coleção ajudaria a dar sentido às obras que eles pretendem um dia, talvez (quem sabe) comprar? Nunca ouviram que uma obra de arte pode ser o melhor contexto para a compreensão de outra?

É claro que isto que estou escrevendo não ajudará em nada para o debate que a proposta de venda daquela obra deveria gerar na sociedade brasileira. Isto tudo serve como um lamento que, no máximo, fará ecoar outros. Nada, parece, vai mudar a decisão do MAM-Rio ou, nem mesmo levá-lo a discutir com a sociedade sua decisão.

“Os cães ladram, mas a caravana passa”, devem dizer os interessados na venda do Pollock, que um dia foi doado ao Museu visando abrilhantar ainda mais seu acervo.

A caravana são eles, aqueles que sempre fizeram o que queriam com o patrimônio que é deles mas também de todos.

A nós, os cães à margem da estrada, só nos resta ladrar.

nota

NE – Texto publicado originalmente na página Facebook do autor.

1
PENNAFORT, Roberta. Museu no Rio vai vender obra de Jackson Pollock avaliada em US$ 25 milhões. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 20 mar. 2018 <http://cultura.estadao.com.br/noticias/artes,museu-no-rio-vai-vender-obra-de-jackson-pollock-avaliada-em-us-25-milhoes,70002234915>.

sobre o autor

Tadeu Chiarelli é professor titular do Departamento de Artes Plásticas da ECA USP. Foi diretor geral da Pinacoteca de São Paulo e diretor executivo do MAC USP.

 

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126.04 museu em crise
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