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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Ethel Leon, crítica de design, coloca em questão objeto de design que tematiza aparelho de tortura de negros no Brasil colonial.

how to quote

LEON, Ethel. A distorção da noção de brasilidade no design tupiniquim. Drops, São Paulo, ano 19, n. 130.05, Vitruvius, jul. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/19.130/7053>.



Leio no Facebook, mas já havia sido alertada por amiga: o Sebrae de Alagoas aprovou projeto de design de móveis para empresa em que uma superfície com orifícios foi realizada com objetivo de comemorar o Quilombo dos Palmares.

O movimento negro reagiu em contrariedade, com toda razão! Como aceitar que um instrumento de tortura – o tronco no qual se amarravam escravos para açoite, seja trazido para o design contemporâneo como emblema de ancestralidade positiva?

Desconfio pesadamente que a responsabilidade por esta noção ideológica bem atravessada esteja nas (in)definições onipresentes de brasilidade.

Essa noção imprecisa, carente de historicidade como vem sendo manuseada nos discursos de design, leva a cada coisa...

Por exemplo, o enaltecimento da precariedade, que subtrai da maioria os direitos de moradia, saneamento... A vil exploração de populações pobres e desempregadas sob o lindo nome de inclusão social, projetos de valorização do artesanato etc.

As noções de brasilidade estão impregnadas de valores que decorrem de nossa história escravocrata, que precisa ser passada a alimpo com rigor (não vi ainda a mostra, mas Ricardo Ohtake me presenteou com os catálogos da exposição Histórias Afro-Atlânticas que está agora no Masp e no Instituto Tomie Ohtake e que apresenta essa discussão em inúmeras frentes).

Está mais que na hora de o mundo do design se relacionar seriamente com as pesquisas de história e ciências sociais, atualizar-se em relação à história social e despir essa vestimenta fantasiosa de que o design é sempre o caminho do Bem. E que nesse caso de Maceió revela apenas que o rei e seus súditos estão nus.

sobre a autora

Ethel Leon é jornalista, pesquisadora, professora na área de história do design brasileiro e autora dos livros Memórias do design brasileiro, IAC – Primeira Escola de Design do Brasil, Michel Arnoult, design e utopia – móveis em série para todos e Design brasileiro – quem fez, quem faz.

 

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