Pode ser a idade, um pouco de cansaço, mas tenho recusado os convites para participar de júris de premiação de design.
Os convites são, muitas vezes, feitos de forma apressada e mal estabelecem os compromissos necessários para a realização do trabalho. Alguns contatos se estabelecem sem sequer mencionar quantos projetos ou produtos serão avaliados por cada jurado.
Apresentam-se as condições de avaliação como sendo excelentes e poupadoras de tempo: “tudo pode ser feito online”. Raramente se menciona a remuneração por esse trabalho. Dificilmente se abrem os nomes dos colegas jurados. Pouco frequentemente se conceitua o próprio prêmio: o que pretende, em que critérios está ancorado, qual seu sentido afinal.
No ano passado rejeitei um convite que me propunha avaliar 700 projetos online! Para avaliar 700 projetos eu precisaria, no mínimo, de 10 dias inteiros. Recusei: não posso dedicar 10 dias a um trabalho sem receber nada! Quando apresentei esse argumento aos organizadores, ouvi a seguinte resposta “Mas um dos membros do júri disse que resolve esses 700 projetos em 3 dias, no máximo”.
Quem dera eu tivesse tal competência e velocidade!
Há também a falaciosa sedução de “não precisar ir a reuniões nem encontrar ninguém”. Mas, retruco, a melhor parte de um processo de seleção é a discussão do júri. É ali que nos confrontamos, aprendemos, rimos, reconsideramos, conhecemos colegas.
Além da remuneração em dinheiro, que me parece importantíssima, garantia da disponibilidade do tempo de cada jurado e seu compromisso com o trabalho, o debate me parece fundamental em qualquer avaliação desse tipo.
Eu me pergunto se prêmios assim organizados, ganham alguma relevância. Sinceramente, espero que não!
Há alguns anos fui jurada num concurso de projetos de estudantes na Bienal de Design de St. Étienne. Cada jurado vinha de um país diferente e tivemos de travar belíssima discussão para confrontar nossos conceitos de design; qual o sentido de um concurso de estudantes; o que cada critério apresentado pela comissão de organização queria dizer... Por incrível que pareça, foi um dos júris mais tranquilos dos quais já participei, justamente por ter tido essa longa cota de conversa preliminar.
Até mesmo nossas diferenças – por exemplo, de países periféricos (eu como a única representante dos BRICs) e hegemônicos entraram na pauta. Tive discussão prolongada e quente com Goerges Labrèque, colega canadense. Rimos muito, ao final, quando concordamos, nós dois, com a seleção do primeiro lugar!
Foi fácil escrever os pareceres – aliás, defendo que cada projeto inscrito receba de volta, no mínimo, um parecer.
Exigências descabidas de alguém formado em período no qual o conhecimento era peça fundamental das avaliações. Bem diferente de nosso momento em que “influenciadores digitais” são os que nada sabem e apenas expõem seus lugares comuns...travestidos de experiências pessoais
sobre a autora
Ethel Leon é jornalista, pesquisadora e professora na área de história do design brasileiro.