Se estivéssemos bem longe dos assombros a que estamos assistindo, tenho certeza de que riríamos um bocado. Meninas devem vestir rosa e meninos azul! Desde quando?
Mais ou menos desde 1930, tempos da Depressão e da ascensão do marketing, quando se estabeleceu essa distinção. Mas o rosa (Barbie, chiclete, colo do útero) nem sempre foi considerado uma cor, mas sim uma sub-cor do vermelho, espécie de tonalidade do rubro.
Sim, esse mesmo rubro que nos define em nome, Brasil, do pau-brasil, o corante valioso responsável por parte da atividade mercantil que se formou nas viagens do Atlântico sul.
Antes do final do século 18, o rosa era presente em vestimentas masculinas, associada ao sangue e à guerra. Exemplos não faltam de pinturas de heróis guerreiros, e mesmo de Jesus Cristo e de Dante Alighieri, aquele que cantou Beatriz com tanto louvor. O poeta florentino ora é representado de vermelho, ora com vestimentas cor de rosa.
O romantismo “autonomizou” o rosa, associado, a partir de então, a ternura e a outros sentimentos menos guerreiros.
E os mantos azuis que coloriram tantas pinturas da Virgem?
Acabo de pensar em novo capítulo de meu curso de história das cores, obrigada, ministra.
Uma dúvida: mulheres podem ministrar?
sobre a autora
Ethel Leon é jornalista, pesquisadora, professora na área de história do design brasileiro e autora dos livros Memórias do design brasileiro, IAC – Primeira Escola de Design do Brasil, Michel Arnoult, design e utopia – móveis em série para todos e Design brasileiro – quem fez, quem faz.