As manchetes preparam corações e mentes para a possibilidade da primeira intervenção armada do Brasil num país sul-americano desde a Guerra do Paraguai, em 1870.
Nenhuma menção ao fato de que está oficializada a candidatura de Lula ao Nobel da Paz, com mais de 600 mil assinaturas, entre as quais vários ex-Chefes de Estado e ganhadores do prêmio em edições passadas.
É claro que a grande mídia, respeitosa com o discurso oficial, não fala em guerra. “Ajuda humanitária” ou combate a uma ditadura de esquerda obviamente funcionam melhor para a tal da opinião pública.
A invasão do Iraque também era para impedir Sadam Hussein de usar as “armas de destruição massiva” que tinha estocadas para reprimir o povo iraquiano e para restaurar a democracia. Dezesseis anos depois não se encontraram as tais armas, a democracia não chegou, mas o petróleo explorado pelas companhias da “coligação democrática” vai muito bem, obrigado.
Antevejo a objeção de boa parte dos leitores: Maduro é um ditador bolivariano que desrespeita as leis, prende ou manda matar opositores e oprime sua população. E ainda tem o apoio do PT!
Sim. E Trump é um democrata sincero e de bom coração, muito preocupado com as condições de vida da população venezuelana e que até agora não foi informado de que Maduro está sentado sobre as maiores reservas de petróleo do planeta!
Como é obvio, a intervenção já começou. O chefe da maior potência militar e econômica do planeta conclamou as forças armadas venezuelanas a derrubar o ditador. Como é um sujeito honesto, certamente espera que os militares democratas o façam por dever cívico e não por suborno de qualquer espécie.
Não se falará de paz nem de Nobel nas próximas semanas. Senão teríamos que admitir que, mais que Perez Esquivel, as 600 mil assinaturas e os chefes de Estado, o grande eleitor de uma improvável premiação de Lula é a explícita desfaçatez do juiz que virou ministro querendo ser promovido a juiz, Sérgio Moro.
sobre o autor
Carlos A. Ferreira Martins é professor titular do IAU USP São Carlos, não confunde democracia com petróleo nem judiciário com justiça.