A fúria neoliberal dos defensores dos agrotóxicos, que culminou com a recente irresponsabilidade na autorização do uso de venenos condenados em outras terras reflete uma atitude governamental que prejudica, inclusive, o próprio agronegócio.
Ao saturar o solo de venenos, o agricultor elimina a micro fauna responsável pelo auto enriquecimento nutricional, além, é claro, de envenenar todos os outros seres, inclusive nós.
Os agricultores inteligentes, e nessa classe incluo alguns do grande agronegócio – já que burrice não tem a ver com o tamanho da terra – sabem que a compatibilização do sistema agroflorestal com a monocultura é um excelente negócio.
Proteger as nascentes da fazenda e criar corredores verdes nos quais são plantadas árvores nativas, frutíferas, forrações comestíveis e flores, vai gerar um estoque de matéria orgânica que pode ser revertido para o enriquecimento do próprio solo da cultura, além de atrair os pequenos e médios animais que estercam sobre esse húmus, enriquecendo-o mais ainda.
Sem a necessidade dos químicos, a agrofloresta atrai e se encarrega de minimizar os danos dos insetos nocivos às culturas de alimentos, já que a sua biodiversidade oferece um cardápio muito mais atrativo para as pragas se alimentarem. A agrofloresta atrai também os insetos benéficos, como as polinizadoras abelhas.
Não podemos esquecer que o sistema agroflorestal proporciona ainda uma renda extra ao agricultor, mantida pela colheita de diversos alimentos cultivados, muitas vezes, com um manejo muito simples.
Esse debate extrapola o sectarismo radical entre a esquerda e a direta, entre o orgânico e o agronegócio, governo e oposição. Torna-se um assunto de sobrevivência de nossa espécie.
Acredito que podemos encontrar um caminho do centro que viabilize o convívio da diversidade. A floresta produtiva convivendo com a grande produção de alimentos.
Ah, os radicais. Quase me esqueço deles!
Não adianta colocar-lhes mordaças, pois isso seria antidemocrático. Precisamos sim, retirar os antolhos que já vieram modelados, de fábrica.
sobre o autor
Mário Hermes Stanziona Viggiano é arquiteto e urbanista pela Universidade de Brasília (1990) e pós-graduado em Projeto de Arquitetura Assistido por Computador – PAAC (UnB, 2000). Pesquisador na área de arquitetura sustentável com vários projetos e produtos desenvolvidos.