O lugar conhecido como Chácara das Jaboticabeiras situa-se a poucos metros da estação Ana Rosa, onde se cruzam as linhas azul e verde do Metrô de São Paulo. Em questão de minutos, Tucuruvi, Jabaquara, Vila Prudente, Vila Madalena – norte, sul, leste e oeste – confluem pelos vagões para esse ponto nodal que, magicamente, pode condensar em si, por um instante, toda uma metrópole plena de dinamismo e diversidade.
Nesse lugar também moram e andam pessoas, com seus ritmos e a velocidade dos seus passos. E passa um rio. É um rio que ninguém vê, mas que transpira pelo meio fio, bombeado dos subsolos dos edifícios construídos mais recentemente sobre ele. Volteia rotatórias, dobra esquinas, atravessa ruas decifrando em voz baixa seu leito cotidiano: Arquimedes Silva, Benito Juarez, Rodrigues Alves, Maestro Callia, Amâncio de Carvalho, Astolfo Araújo. Esses nomes lhe são indiferentes, pois acima deles pairam o andar vago ou decidido dos passantes, os pássaros no céu ou nas copas das árvores e o silêncio necessário para ouvi-los.
Caminhar por ali é experimentar outra dimensão da cidade estando no meio dela. Não é preciso morar na Chácara das Jaboticabeiras para se sentir agraciado por tudo isso. Basta saber que existe um lugar assim no coração da metrópole, e que se pode acessá-lo numa piscadela e provar suas delícias raras. Mas são delícias secretas, e secretas devem ser mantidas e preservadas para que sejam por todos desfrutadas.
nota
NE – texto originalmente publicado na página de facebook do coletivo Chácara das Jaboticabeiras
sobre o autor
Vladimir Bartalini é arquiteto, mestre e doutor (FAU USP, 1972, 1988, 1999). Professor dos cursos de graduação e de pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. É membro fundador do Laboratório Paisagem, Arte e Cultura – LABPARC/ FAU-USP, o qual coordenou de 2002 a 2006, desenvolvendo estudos teóricos sobre paisagem e pesquisa sobre “Córregos Ocultos”.