Os filmes da moda tratam da existência de universos paralelos, em que os mesmos personagens têm atributos diferentes e os eventos podem ser alterados através de portais que permitem viagens no tempo e entre os vários mundos existentes.
Esse “mundoparalelismo” é diversão nas ficções da Marvel ou da DC Comics, mas pode ser trágico na sociedade brasileira. Bons exemplos não faltam, mas o universo da educação superior e da ciência e da tecnologia é bastante rico deles.
O núcleo bolsoolaviano do desgoverno afirma, e a julgar pelas redes sociais há quem acredite, que as universidades públicas são centros de consumo e distribuição de drogas (Terra 1, plana). Mas a última apreensão de 39 quilos de cocaína se deu num avião da comitiva presidencial e a de 300 quilos de maconha num veículo do exército (Terra 2, esférica).
O desministro da deseducação afirma que bolsas de estudo e verbas universitárias são despesas desnecessárias porque o despresidente já ensinou que a pesquisa se faz nas universidades privadas (Terra1, plana). O sistema de avaliação da produção científica internacional, capitaneado por instituições da Inglaterra e dos Estados Unidos que 95% da ciência produzida no Brasil vem das instituições públicas (Terra 2. Esférica).
As excelências que lideram a Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI das Universidades Estaduais Paulistas estão convencidas que são capazes, a partir de uma planilha Excel com “todas” as pesquisas realizadas desde 2011, de demonstrar que estas são um desperdício do dinheiro público (Terra 1, plana). Nesta mesma semana a o ranking 2019 da Times Higher Education mostrou, após consulta a milhares de especialistas do planeta (Terra 2, esférica), que a Universidade de São Paulo – USP é a melhor universidade da América Latina e suas coirmãs Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e Universidade Estadual Paulista – Unesp estão entre as 10 melhores.
Adolescentes curtirem ficção de universos paralelos não faz mal a ninguém. Adultos acreditarem nas mentiras de despresidentes, desministros e desdeputados tem enorme poder de destruição.
Onde está a chave do portal que nos salvará da tragédia?
sobre o autor
Carlos A. Ferreira Martins é professor titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – IAU USP São Carlos.