Essa afirmação poderia ser uma denúncia “de esquerda” frente ao caráter restritivo e excludente das políticas do antigoverno bolsonarista. Mas foi uma declaração de princípios exposta de maneira despudorada pela ridícula figura colocada à frente do Ministério de Educação.
Pior, feita na frente de crianças e jovens numa cerimônia oficial. Atacando o programa Bolsa Família e afirmando que o objetivo da educação “não é garantir o futuro das crianças”, o pseudoministro explicita o total descompromisso governamental com o futuro, não só das crianças, mas do país.
No império do vale tudo em que se transformou a comunicação oficial, ainda achou espaço para dizer que a suspensão de mais de 5.500 bolsas de estudo “não é corte”.
Quem quiser acreditar em coincidências, fique à vontade. Mas é fato que junto aos cortes de bolsas e das verbas para as universidades, surgiram de imediato campanhas publicitárias de novas linhas de empréstimo pessoal de instituições financeiras privadas para... pagar o ensino.
Na lógica particular do ministro da antieducação, sua absurda declaração teria o sentido de defender a meritocracia. Mais honesto foi o deputado Marquezelli que, quando da aprovação do teto de gastos, não teve constrangimento em declarar: “é muito simples, quem tiver dinheiro manda seus filhos para a universidade e quem não tiver não manda”.
Fica então claro que “mérito” é nascer em família rica ou ficar rico por “mérito” como o famoso vendedor de carros usados que se trata no hospital mais caro do país.
Também deve ser por “mérito” que o sujeito que confunde S com Z e 500 mil com 500 milhões seja ministro da educação e que o filho que “merece” filé mignon pretenda ser embaixador num país de que não fala a língua.
Os são-carlenses que atuam no comércio ou no setor imobiliário em breve sentirão o peso dos cortes na atividade econômica da cidade, como a EPTV já mostrou. Talvez isso os leve a refletir melhor sobre o “mérito” na escola e nas suas atividades.
sobre o autor
Carlos A. Ferreira Martins é professor titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – IAU USP São Carlos.