Esse é um caso raro em que o nome da mulher se tornou mais conhecido do que o de seu marido e sócio. Florence Knoll, responsável pelo contato com uma série de arquitetos e designers modernos, entre os quais Eliel e Eero Saarinen (pai e filho), Mies van der Rohe, Walter Gropius, Isamu Noguchi, Harrry Bertoia, Marcel Breuer, fez que a empresa da qual era sócia com o marido, a Knoll, produzisse peças desses nomes mais ligados à tradição europeia ou culta do design do que à produção norte-americana.
Desse modo, a Knoll, assim como a Herman Miller, se tornaram empresas que ganharam espaço mundial junto a arquitetos do período de ouro do capitalismo internacional.
As peças produzidas pela Knoll passaram a mobiliar os escritórios (sobretudo as salas de diretoria) de grande parte das empresas de petróleo, informática, bancos e outras corporações internacionais. O gosto refinado se adequava às estratégias de política externa norte-americana no período do pós Segunda Guerra.
É curioso ver o lugar de Florence Knoll na empresa, embora a Knoll não tenha sido regida por uma só voz e tenha se apresentado de formas distintas nos diversos países em que atuou, Brasil inclusive (em associação com a Forma).
Mas, certamente foi a partir de sua batuta que se decidiram várias das estratégias de alcançar o novo mundo do trabalho, por exemplo, na definição de planejamento dos escritórios (como todos os arquitetos modernos, ela não chamava sua atividade de decoração de interiores), levando em consideração os novos fluxos de informação presentes no cotidiano das empresas.
Ela também desenhou mobiliário e lançou o programa de criação de padrões têxteis, de alcance internacional. Florence Knoll teve vida longeva. Nasceu em 1917 em Michigan e morreu no começo de 2019. Viúva de Hans Knoll em 1955, casou-se novamente em 1957.
Não conheço estudo que trabalhe sua atuação na perspectiva de gênero, o que deve ser muito interessante. Se alguém souber de algo, agradeço a indicação. A foto abaixo sempre me impressiona pela posição de destaque de Florence diante daquele conjunto de homens.
nota
NE – sexto texto da série “Terça-feira das mulheres”, publicado pela autora em sua página Facebook.
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Exposição “Charlotte Perriand: inventing a new world”. Curadoria de Jacques Barsac, Sébastien Cherruet, Gladys Fabre, Sébastien Gokalp e Pernette Perriand. Fondation Louis Vuitton, Paris, de 2 out. 2019 a 24 fev. 2020 <https://www.fondationlouisvuitton.fr/en/exhibitions/exhibition/charlotte-perriand.html>. A informação sobre a exposição me foi dada por Camila Gui Rosatti, a quem agradeço.
sobre a autora
Ethel Leon é jornalista, pesquisadora, professora na área de história do design brasileiro e autora dos livros Memórias do design brasileiro, IAC – Primeira Escola de Design do Brasil, Michel Arnoult, design e utopia – móveis em série para todos e Design brasileiro – quem fez, quem faz.