Concordo com o leitor: está chato falar de política o tempo todo. Estraga amizades, azeda o fígado e separa as famílias, neste momento em que a passagem sazonal do espírito natalino pede paz e reconciliação.
Vamos então falar de ciência e do avanço do conhecimento, cujo objetivo maior é beneficiar a humanidade.
Durante as edições anteriores do relatório Free to Think (Livre para pensar), elaborado por uma rede internacional sediada na Universidade de Nova York, quem ocupou as capas foram o Irã, a Turquia, o Paquistão e o Egito. Países, como se sabe, de pendor antiocidental, regidos por governos autoritários e obscurantistas.
Neste ano, o Brasil ganhou a capa, por causa das declarações do quase ex-ministro da educação contra as universidades públicas, dos tuites do presidente e de episódios vários de repressão policial ou judiciária.
Também cita a asfixia orçamentaria da ciência e da tecnologia e as ameaças à autonomia universitária, simbolizadas pela foto da Faculdade de Direito da Universidade do Paraná em que uma faixa dizendo “Em defesa da educação”, foi retirada por ordem judicial.
O coordenador do relatório, Robert Quinn, explica que seria injusto dizer que o Brasil é o pior país do mundo para a liberdade acadêmica. “O que estamos dizendo é: O Brasil está aqui e isto é novidade”, afirma.
Por outro lado, Nature, a mais prestigiosa revista científica do planeta, incluiu o físico brasileiro Ricardo Galvão entre os dez “cientistas do ano”. Se o leitor não se lembra, ele foi o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe, exonerado porque divulgou índices de desmatamento da Amazônia que desagradaram o governo.
Para alguns na comunidade acadêmica a boa notícia da semana é a quase certa demissão de Abraham Weintraub do ministério daquilo que ele odeia, a educação. Mas é bom não esquecer que, apesar do dito popular, sempre pode ficar pior do que está.
Afinal a irmã do posto Ipiranga, Elizabeth Guedes, é presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares e parece que ela acha que o governo tem gasto seu tempo achincalhando as públicas em vez de cuidar do lucro das privadas.
sobre o autor
Carlos A. Ferreira Martins é professor titular do IAU USP São Carlos.