Hoje vou falar de Suzana Mara Sacchi Padovano.
Ela acaba de lançar o livro Design e outros papos, que só consegui folhear. Tem trajetória impressionante no design brasileiro. Tenho certeza de que se fosse um Pedro, um Rubem ou um Augusto sua produção teria sido muito melhor divulgada e compreendida.
Formada no Mackenzie em 1974, continuou os estudos na Rhode Island School of Design, Providence, EUA. Seu projeto final foi uma cadeira de rodas para adultos.
No Brasil, trabalhou por três anos no Hospital Sarah Kubitschek, onde desenvolveu, entre outros projetos, uma cadeira de rodas infantil que mais parece um brinquedo, carrinho, objeto provável de desejo de qualquer criança.
Em São Paulo trabalhou na Cauduro & Martino e abriu seu escritório em 1981. Foram muitos os projetos, lembro de alguns marcantes: computadores e impressora para a Prologica; sistema de transportes e abrigo de ônibus para a Unicamp; liquidificador e enceradeira para a Arno; circulador de ar; interruptores de luz, relógios.
Dedicou-se também à docência e coordenou o curso de Desenho Industrial da Faap por alguns anos.
Por toda essa trajetória tenho pedido a ela que organize um livro com seus projetos. Não que suas reflexões – objeto de seu livro recém-publicado – não sejam importantes. Mas, diante da ausência de pesquisa mais geral sobre o design na indústria brasileira (é um vexame que a Fiesp e outras federações estaduais ou mesmo a Confederação Nacional da Indústria nunca tenham encomendado pesquisa séria e abrangente a esse respeito!), resta a nós, pesquisadores de história, levantar dados empíricos que passam, muitas vezes, pela atuação dos e das designers.
Não se trata de construir biografias laudatórias ou de fazer histórias heroicas, mas de identificar o que foi realizado em certos períodos. E também há aspecto que só esses depoimentos podem oferecer: as negociações entre designer e industriais ou diretores de marketing, enfim, entre projetistas e encomendantes.
Lembro sempre de Julio Katinsky que, ao perceber o descuido dos profissionais com a documentação, sempre os incentiva a organizar portfólio, alertando que nossa herança colonial nos faz desprezar o próprio trabalho.
Então, querida Suzana, por favor, comece a organizar seu livro de projetos. Ele será uma grande contribuição para nossa história!
nota
NE – sétimo texto da série “Terça-feira das mulheres”, publicado pela autora em sua página Facebook.
sobre a autora
Ethel Leon é jornalista, pesquisadora, professora na área de história do design brasileiro e autora dos livros Memórias do design brasileiro, IAC – Primeira Escola de Design do Brasil, Michel Arnoult, design e utopia – móveis em série para todos e Design brasileiro – quem fez, quem faz.