Desde a primeira coluna deste ano São Carlos voltou a ser assolada por mais enchentes e nada garante que não venha a ser ainda este ano. Mas a dinâmica da política – e da grande mídia – é sempre mudar de assunto.
Um dia é uma comitiva de quase duas dezenas de políticos que foi a São Paulo formalmente em busca de apoio financeiro do governo do Estado para os prejudicados pelas águas.
Outro é o inaceitável episódio de agressão a manifestantes que pacificamente protestavam contra a presença da ministra Damares em São Carlos, por parte de um vereador que se notabilizou pelas atitudes violentas e um pseudo pastor que exibiu a mesma intolerância dos que crucificaram Jesus.
Quem já viveu a política como ela é, sabe que, em ambos os casos, os prejudicados com as enchentes eram quem menos importava.
No primeiro caso era a busca de fotos ao lado das autoridades estaduais. Pelo relato da imprensa independente local, deu errado. Mal conseguiram a atenção do secretário e ficaram brigando para ver quem era o melhor papagaio de pirata.
No segundo era uma maneira de se legitimar junto aos seus potenciais apoiadores. Nos dois casos, os protagonistas estavam mesmo é de olho nas eleições deste ano.
Se – espero que isso aconteça – as chuvas derem uma trégua natural, pode anotar aí, leitor e eleitor são-carlense, que nenhum deles voltará a falar no tema até ... o ano que vem.
Quem estiver interessado de verdade no presente e no futuro da cidade deve manter sua atenção nas condições do desenvolvimento urbano passado, presente e futuro que vem provocando e vai provocar cada vez mais episódios como os que vivemos neste começo de ano.
Por isso, por que sou urbanista e já fui secretario municipal, por que não sou candidato a nada e por que sei que se está tramando uma alteração do Plano Diretor que vai levar mais dinheiro para os que só se importam com isso e vai agravar ainda mais a situação de macrodrenagem da cidade, é que vou continuar esta série de colunas sobre o tema.
Por que sei que só o cidadão comum, informado sobre as razões técnicas das enchentes e sobre as políticas e ações de curto, médio e longo prazos necessárias para minimizar o risco de enchentes, terá interesse em enfrentar, de verdade, o problema.
sobre o autor
Carlos A. Ferreira Martins é professor titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – IAU USP, foi Secretário Municipal de Governo (2001-2004) e presidente do Comdusc (2007-2011).