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drops ISSN 2175-6716

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Carlos A. Ferreira Martins, professor do IAU USP, comenta a relação entre as enchentes e o planejamento urbano inadequado.

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MARTINS, Carlos A. Ferreira. A culpa não é da chuva. Parte 3. Drops, São Paulo, ano 20, n. 148.09, Vitruvius, jan. 2020 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/20.148/7635>.


Enchente em Belo Horizonte
Foto divulgação [Corpo de Bombeiros]


Enquanto em São Carlos as chuvas parecem (esperamos) ter dado uma folga até o ano que vem, em Belo Horizonte elas têm cobrado sua cota anual de mortes, desabamentos e perdas materiais e humanas.

Em texto recente meu colega Renato Anelli, que foi secretário de Obras e Serviços Públicos de São Carlos entre 2001 e 2004 e desde então vem se dedicando a pesquisas sobre o tema, comenta o caso de Belo Horizonte.

Segundo seu texto, que vem apoiado no trabalho de vários pesquisadores mineiros, há um problema de origem no caso da cidade que foi criada para ser a nova capital do Estado no final do século 19.

Para Anelli um dos problemas na origem do recorrente problema das enchentes e deslizamentos de terra foi o abandono do plano proposto pelo engenheiro sanitarista Saturnino de Brito, que respeitava o traçado dos rios e córregos do sitio, e sua substituição pelo plano de Aarão Reis, igualmente engenheiro, que propôs uma quadricula geométrica que ignorava o traçado natural.

Isso implicou uma ocupação urbana indevida nas cabeceiras dos cursos d’água da capital mineira, com a impermeabilização do solo diminuindo a capacidade de absorção das chuvas e provocando o fluxo mais rápido das águas.

A isso se soma que em regiões ocupadas o risco de assoreamento (enormes quantidades de terra, areia e sujeira que diminuem a vazão dos corpos de água) é crescente.

E é claro que quando os córregos e rios são tamponados (cobertos) fica muito mais difícil o trabalho de desassorear (limpar o leito do córrego ou rio).

Estamos falando de Belo Horizonte, mas o leitor já percebeu que poderíamos trocar os nomes por São Carlos.

Também aqui o primeiro plano urbano da cidade se apoiou num desenho geométrico quadriculado que ignorou solenemente a topografia e a hidrografia (estudo e traçados dos corpos d’água) do nosso belo sítio.

É por isso que temos ruas (General Osorio, por exemplo) que cruzam os córregos fingindo que eles não existem e córregos que estão tamponados, embaixo de ruas e até de imóveis, sem que o cidadão se dê conta disso. Até que eles reclamem, na forma de alagamentos e enchentes.

Voltaremos ao tema. Porque as chuvas vão voltar.

sobre o autor

Carlos A. Ferreira Martins é professor titular do IAU USP São Carlos, que tem grandes especialistas no assunto.

 

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148.09 urbanização
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