Italo Campofiorito nasceu em Paris em 1933 e gostava de contar que nascera na França, porque seus pais, artistas que estavam na Itália graças a um prêmio de viagem concedido pela Escola Nacional de Belas Artes, haviam decidido que quando se aproximasse o nascimento do filho sairiam da Itália, pois não queriam que este nascesse num país fascista. O pai prezava suas origens italianas que ficaram marcadas na escolha do nome do filho, mas principalmente prezava a democracia e a liberdade, inexistentes naquele momento na Itália.
A formação do jovem Italo começou em casa através de seus pais pintores, Hilda e Quirino Campofiorito, pintando os diferentes cantos do Brasil nas férias levavam o fllho para acompanha-los e desenhar. Arquiteto da geração de modernos da década de 1950, formou-se em 1956 tendo como companheiros Glauco Campello, Jaime Zettel, Artur Lício Pontual entre tantos outros. Com o diploma de arquiteto resolve ir estudar arte em Paris com André Chastel.
Não conclui o curso pois resolveu voltar ao Brasil em 1958, decidido em participar da construção de Brasília. Fica lá 12 anos de 1958 a 1970, primeiro no escritório de Oscar Niemeyer até 1961, quando vai para Inglaterra estudar o novo urbanismo das cidades satélites inglesas, e depois ao regressar assume a chefia do Serviço de Urbanismo Metropolitano de Brasília e o cargo de professor no curso de graduação e da pioneira pós-graduação em arquitetura e urbanismo da UnB.
Em 1962 fica responsável por acompanhar Le Corbusier na sua vinda ao Brasil para projetar a embaixada da França no Brasil. No final dos anos 1970 integra o grupo de implantação do Corredor Cultural no Rio de Janeiro, aliando uma visão inovadora de Patrimônio e de Urbanismo. A partir de 1979 assume também a direção do Patrimônio Histórico e Artístico do Inepac. Nas duas instâncias trabalha para valorizar aquilo que era até então considerado o “sem importância”, a arquitetura do cotidiano, a cidade pulsando entre o velho e o novo.
Era extraordinário para nós, estudantes e jovens arquitetos nos anos 1980, ouvir de um dos construtores de Brasília falar sobre o valor da rua corredor, da praça, da cidade tradicional, das lições de Jane Jacobs. No Inepac com Darcy Ribeiro como Secretário de Cultura, Italo vai promover o tombamento da paisagem, da inventiva arquitetura vernacular e da cultura afro-brasileira representadas na orla de Cabo Frio, na Casa da Flor em São Pedro d’Aldeia e na Pedra do Sal no Rio de Janeiro.
O arquiteto que passou a criticar o urbanismo moderno também seria o responsável por um tombamento absolutamente inovador do Plano Piloto de Brasília, primeiro pela Unesco (1987), depois pelo Iphan (1990), subvertendo a ideia tradicional do tombamento de um conjunto de monumentos, pela proteção das escalas de Brasília, aquilo que definia o conceito moderno da cidade. Foi presidente do Iphan e diretor do Patrimônio Cultural de Niterói.
Além de tudo isto, Italo foi personagem e narrador das histórias e bastidores da arquitetura moderna brasileira. São inúmeras as histórias. As impressões de Le Corbusier da arquitetura no Rio de Janeiro no início da década de 1960. A construção de Brasília e a maquete de Portinari do painel nunca realizado no Congresso Nacional. A arquitetura brasileira perdeu hoje Italo Campofiorito. O seu legado permanece mas vamos sentir muita falta da saborosa narrativa das suas histórias.
sobre o autor
José Pessoa, arquiteto, Professor Titular da Universidade Federal Fluminense – UFF.