Bolsonaro bate o recorde de dez dias sem falar (muita) besteira e a imprensa comemora.
Parece que a “frente democrática” tinha por objetivo não afastar o genocida, mas torná-lo mais “comedido”. A senha veio de FHC, grande liderança das redações dos jornalões que, logo depois da manifestação virtual que animou os ingênuos, pediu “tolerância” com o capitão.
Enquanto isso no quartel de Abrantes...
Decotelli foi demitido antes mesmo de assumir. Muitos suspeitam de racismo porque Damares e Salles também falsificaram currículos mas continuam impávidos e colossos.
Outros lembram que Bolsonaro hoje está acuado, ao contrário do momento das denúncias contra a mestre pela graça de Deus e o senhor das boiadas, quando nadava de braçada na aprovação de um terço da população.
Quando escrevo parece que o novo ministro será o atual secretario de educação do Paraná. Pelo menos ele se antecipou e deu um trato no currículo que não atualizava desde 2002. Um dos administradores de uma conhecida empresa de informática, o novo ministro responde por denúncia de fraude fiscal de mais de três milhões de reais.
Apesar do “comedimento” continua valendo a regra de que “sonegação não é corrupção”. Por falar no tema, quem diria que os profetas da honestidade medida em K, também conhecidos como os garotos do powerpoint, seriam acusados... de corrupção pela turma do Aras, o procurador geral de Bolsonaro?
O morticínio do Covid faz estragos nas terras indígenas, mas o capitão declara na live do Mercosul que pretende lutar “contra a desinformação” sobre a Amazônia.
Enquanto isso, a isenção do pagamento de luz pelos mais pobres não será renovada; a Globo dá mais espaço ao esclarecimento das empresas de aplicativos de comida do que à notícia da greve dos entregadores e a Lavajato de São Paulo dribla decisão do Supremo e reabre acusação contra José Serra, que estava na muda há bastante tempo.
A primeira dama paulista, Bia Dória, recomenda em vídeo que não se dê marmita a moradores de rua porque isso estimula que eles continuem na rua. Certamente gozando o conforto desse friozinho bom dos últimos dias.
Os números da gripezinha ultrapassaram um milhão e meio de contaminados e 65 mil mortes. Deve ser por isso que o capitão vetou a obrigatoriedade de uso de máscara em lugares fechados, como igrejas, bares, restaurantes etc.
Mas quem liga para isso, com tanta noticia boa, não é mesmo?
sobre o autor
Carlos Alberto Ferreira Martins é professor titular do IAU USP São Carlos.