Um Rio que se queria, um Rio que se sonhava, uma cidade mais solidária, mais leve, mais divertida, mais humana. Onde podíamos andar com fé e ter a certeza de que a fé não costumava faiá.
Uma cidade mais verde, e sempre verdejante. Não de um Partido Verde, mas de um verde inteiro e nunca partido. Verde, se diz por aí; é a cor da esperança e da liberdade e da leveza e da saúde e da utopia.
Quando um certo e inexpressivo então vereador, hoje o nefasto presidente que diz “e daí” para o amontoado de mortos sob seus pés, o saudava pejorativamente dizendo:
– E aí, seu verde?
O vereador mais votado daquele Rio distante desta atual distopia “crivéllica-miliciânica” respondia, irônica e debochadamente:
– E aí, seu verde-oliva?
O “verde” que hoje se foi precocemente sempre pensou em incluir, em conectar, em planejar, em fazer e em fazer acontecer.
O “verde-oliva"” vocês bem sabem, foi expulso do exército, nunca agregou nenhuma relevante contribuição nem àquela cidade, onde foi colega do vereador verde, e nem ao país que hoje (des)governa e que nos faz passar vergonha em cadeia “cloroquínico-evangélica” nacional e internacional.
Para caminhar, andar de skate, pedalar nestas ciclovias do Leme ao Pontal, não há nada igual. Parques, casarios, áreas de proteção ambiental, pequenos cuidados, pequenos gestos que pode ser plantar uma árvore, abraçar a figueira da Rua Faro, abraçar toda a Lagoa Rodrigo de Freitas ou sequestrar um embaixador da Alemanha ou da Suíça ou falar horas sobre o quanto admirava a Jane Jacobs, e criticar Le Corbusier, ou escrever Os carbonários e agora (re)escrever os (Des)carbonários.
Vejam como foram tantas e tão significativas contribuições à cidade, ao país e à suas histórias.
Um político, um escritor, um ambientalista, um ciclista, um skatista, um anti-rodoviarista que, assim quis o destino da cidade distópica crivéllica-miliciânica, morreu em uma rodovia, dentro de um automóvel, quando ia ao encontro de sua quase centenária mãe.
Alfredo Sirkis nos deixou, mas o legado de muitas de suas ações, projetos, leis e iniciativas ainda estão por aí na cidade que, sabe-se lá porque, poderia voltar a ser em breve tão utópica e maravilhosa quanto sonhava o eternamente jovem Alfredo Sirkis.
nota
NA – Há alguns anos eu tive a oportunidade de entrevistá-lo para o Portal Vitruvius: BARBOSA, Antônio Agenor. Alfredo Sirkis. Entrevista, São Paulo, ano 04, n. 013.02, Vitruvius, jan. 2003 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/04.013/3338>.
NE – O portal Vitruvius publicou uma segunda entrevista com Alfredo Sirkis: MAGALHÃES, Roberto Anderson M. Alfredo Sirkis. Entrevista, São Paulo, ano 09, n. 033.01, Vitruvius, jan. 2008 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/09.033/3290>.
sobre o autor
Antônio Agenor Barbosa, Professor Adjunto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora (FAU-UFJF).