E se formos incentivados a imaginar um lugar que nos proporcione bem-estar para estarmos agora? Temos grandes chances de as respostas incluírem lugares cercados por natureza ou com elementos naturais.
Esta conexão se dá ao fato de sermos seres biológicos. Viemos da natureza e herdamos esses genes de nossos ancestrais. Levando em consideração a evolução da espécie, como civilização, vivemos mais tempo de uma forma – nos relacionando com a natureza e elementos naturais – do que da forma que vivemos hoje.
Ainda que tenhamos herdado essas conexões, passamos de 80% a 90% de nossas vidas dentro de espaços construídos. Neste cenário onde a necessidade de reaproximação do ser humano com a natureza é iminente, o conceito de Biofilia ganha força.
Por definição, Biofilia significa “amor pela vida” e é entendida como a necessidade que o ser humano tem de se conectar com a natureza. Para nós arquitetos a aplicação deste conceito se dá através do Design Biofílico.
É através do Design Biofílico que nós arquitetos podemos inserir experiências naturais dentro de ambientes construídos proporcionando saúde, bem-estar, conforto e conexões positivas entre o “eu construído” e o “eu natural”.
Duas formas de proporcionar experiências biofílicas são: as diretas, onde utilizamos os elementos da natureza propriamente ditos e; as indiretas, onde fazemos usos de analogias, formas, imagens etc.
A mais conhecida “ferramenta” do design Biofílico é a vegetação. O contato com as plantas faz uma conexão do ser humano com a natureza quase que imediata. São elementos que proporcionam bem estar além de purificarem o ar do ambiente que estão inseridas. Porém o Design Biofílico vai além do uso da vegetação. Todos os elementos naturais podem –e devem- ser explorados para compor os ambientes. Podemos facilmente nos conectar com o elemento água – que compõe 80% do nosso corpo – através de fontes, espelhos d’água, piscinas etc., assim como com o elemento fogo através de lareiras com lenha ou até mesmo pedras vulcânicas.
Bons projetos de arquitetura levam em consideração, por exemplo, o conforto térmico e o conforto luminoso nas edificações. Inconscientemente – ou conscientemente – a condução de forma adequada destes itens pode estabelecer uma conexão com a natureza através da luz e ventilação natural. Para o ser humano, a luz natural é um elemento muito importante que devemos buscar sempre incorporar aos nossos projetos. É ela o principal fator que regula nosso ciclo circadiano – que é o relógio biológico do ser humano – além de regular o sono e níveis de estresse.
Podemos sim ter projetos baseados em nossas memorias biológicas e muitos são os recursos que podemos utilizar para estabelecer essa relação. Dentro da Biofilia, e consequentemente do Design Biofílico, não temos um “passo a passo” que deve ser seguido, mas sim uma série de conceitos e estudos que apontam itens importantes a serem feitos. Dessa forma cabe ao profissional arquiteto aplicar estes conceitos de acordo com o perfil do usuário, tendo em vista que cada lugar e cada pessoa são únicos.
Assim como qualquer disciplina do projeto o design biofílico também requer pesquisa, estudo, experiência e vivência para ser bem aplicado. Em um país como o Brasil, onde são crescentes os surtos de ansiedade e depressão, precisamos nos empenhar para buscar soluções que possam amenizar esse lamentável quadro, com embasamento e responsabilidade.
sobre a autora
Juliana Duarte dos Santos Purcinelli é arquiteta e urbanista formada pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2013), com extensão em Lighting Design (2018), atuante na área de arquitetura de interiores residencial e corporativo. Autora de Fenomenologia e o espaço urbano: A tipologia do bairro da liberdade (Conic-Semesp, 2012).