Uma foto da Uol de hoje me chama atenção. São telespectadores assistindo ao jogo de ontem. Com camisas da seleção, semideitados, parecem estar prestes a fumar ópio e não a torcer por um time.
São telespectadores, espectadores de longe, que parecem não vibrar, não se entusiasmar, não sofrer, roer unhas com muitas e nós, torcedores.
Chamam atenção os sofás e poltronas em que estão, que induzem a essa postura de romanos em banquetes, semideitados gozando da farta e exótica comida e de bebidas muitas (a exótica era a dos banquetes romanos ou pompeianos, aqui, em hotel cinco estrelas, sei lá...).
Muito diferente das imagens de torcedores de pé, em praças ou de prosaicas cenas domésticas em que todas se sentam na beirinha do sofá, prontas para se levantarem em protesto ou celebração.
Os objetos não podem ser responsabilizados pelos atos, mas, certamente, são coadjuvantes e até certo ponto, induzem a posturas e gestos.
Me deu uma vontade de sacudir aquelas pessoas das fotos, chamá-las para uma vibração de verdade!
nota
1
A foto foi publicada na seguinte matéria: MACEDO, Sandro. Copa do Mundo 2022: em hotel de luxo em SP, torcida come e bebe bem, e vibra pouco. Folha de São Paulo, Caderno de Esportes, 28 nov. 2022 <https://bit.ly/3gQdCiS>.
sobre a autora
Ethel Leon é pesquisadora e professora na área de história do design brasileiro, e autora dos livros Memórias do design brasileiro, IAC – primeira escola de design do Brasil, Michel Arnoult, design e utopia – móveis em série para todos e Design brasileiro – quem fez, quem faz.