Nesse momento de grande alta dos modernariatos (na SP arte eles são tão representativos quanto os estandes de designers da atualidade) a questão da cópia, das falsificações, das atribuições fake vêm muito à tona.
Na SP-Arte, sou consultada por Pablo Casas, da Herança Cultural, sobre uma poltrona, atribuída a Julio Katinsky e fabricada pela Novo Rumo em 1970.
Pablo, desconfiado, me conta que em todos os sites que consultou, a poltrona aparece com a autoria de JK.
Digo “não, o professor nunca trabalhou para a Novo Rumo, nunca fez essa poltrona”. Logo em seguida, Julio e Bia Katinsky chegam e, desse modo, o marchand, além de contar com minha palavra, ouve a gargalhada de Julio diante da foto.
Pablo Casas procurou se informar com as fontes corretas e não cansou de me repetir que todos que visitou fazem esta atribuição de autoria, exatamente a mesma.
Conheço bem o fenômeno: acontece também nas citações de textos. Alguém erra propositalmente ou não uma frase, um parágrafo, e todo mundo começa a repetir o erro. Daí esta obsessão dos pesquisadores em procurar as fontes primárias.
O professor Julio Katinsky nunca projetou para a Novo Rumo e quase todos os seus móveis estiveram em exposição recente, que organizei, na galeria Teo. Portanto, daqui para a frente, equívocos dessa natureza não são mais admissíveis (sem ingenuidades, sei que eles vão ocorrer, ter o nome de JK numa poltrona tem o dom de valorizá-la).
Dá vontade de fazer camiseta com a foto: esta não é poltrona de Julio Katinsky!
sobre a autora
Ethel Leon é pesquisadora e professora na área de história do design brasileiro, e autora dos livros Memórias do design brasileiro, IAC – primeira escola de design do Brasil, Michel Arnoult, design e utopia – móveis em série para todos e Design brasileiro – quem fez, quem faz.