Os Institutos Federais
Criados pelo então ministro da educação Fernando Haddad em 2008, os Institutos Federais partiram das Escolas Técnicas Federais existentes em quase todas as capitais de estados brasileiros, para criar uma ampla rede de ensino técnico, assim como cursos superiores tecnológicos, licenciaturas e bacharelados.
O modelo dos Institutos Federais passou a ser um híbrido entre universidades e escolas técnicas, contando com as duas modalidades de ensino articuladas por uma forte base laboratorial comum. De outra parte, as formas de ingresso e a capilaridade da rede permitiram que se tornassem importantes equipamentos de transformação social e ampliação de oportunidades profissionais.
Desde que foram criados os Institutos Federais, em 2008, Botucatu sonha com a implantação de um campus. Depois de quinze anos de persistência atravessando diferentes gestões municipais e federais o objetivo começa a ganhar contornos palpáveis: o prefeito Mário Pardini se reuniu com o Secretário de Ensino Tecnológico Getúlio Marques Ferreira e o deputado Alencar Santana, e agora tramita no Ministério da Educação um processo de solicitação de criação do Campus Botucatu [protocolo n. 23123004887/2023-19].
Botucatu
Cidade mais antiga do Sudoeste paulista, Botucatu no passado foi porta de entrada para os Sertões do Paranapanema e Norte do Paraná, depois foi a capital da Alta Sorocabana, e ao longo do século 20 consolidou sua fama como “Cidade das Boas Escolas”, iniciada com a instalação da Escola Normal em 1916. No final do século, com a mudança da legislação educacional, o curso Normal foi desativado, deixando uma lacuna na cidade.
De outra parte, embora conte com um parque industrial pujante na área metal-mecânica, madeira, e agora, cerâmica, não possui instituições públicas de ensino e pesquisa relacionadas a esta estrutura produtiva.
Por fim, o patrimônio histórico expresso na arquitetura urbana e rural da região, a geografia peculiar das “cuestas” basálticas e a delicada posição sobre áreas de reposição do aquífero Guarani mereceriam pesquisas mais profundas e propostas de ensino que articulem estes elementos em favor do crescimento da qualidade de vida e do desenvolvimento social em padrões mais sustentáveis.
Botucatu conta hoje com aproximadamente 150 mil habitantes e sua microrregião conta com outros 150 mil habitantes distribuídos em nove municípios com ampla diversidade de estruturas econômicas e características geográficas.
A região tem potencial cultural, ambiental e turístico gigantesco mas falta um espaço acadêmico voltado para estas reflexões. Alguns municípios se ressentem da falta de perspectivas econômicas e seriam muito beneficiados por uma instituição que levasse a eles qualificação profissional e cenários de desenvolvimento econômico, agrícola, industrial, turístico.
As potencialidades de um Campus em Botucatu
Toda a discussão acima já criou uma alma para o campus que nem nasceu. O grupo de trabalho pela implantação do campus elaborou uma proposta que coloca muito do que foi dito acima, levada pelo prefeito a Brasília (1).
Sonhamos com um novo campus com cursos que articulem ensino e pesquisa conectando o parque industrial às potencialidades turísticas e culturais, levando oportunidades de desenvolvimento social e econômico à população de toda a região.
O novo campus permitirá formar professores em Botucatu; qualificar quadros e pensar cenários de desenvolvimento articulando as cadeias produtivas de Botucatu e das cidades pequenas dos arredores. Construirá uma discussão mais ampla de desenvolvimento e sustentabilidade, essa palavra tão usada e discutível.
A comunidade está envolvida e empenhada na iniciativa. Crescentemente a conversa tem fluído pela cidade e há uma vontade coletiva pela implantação, expressa no apoio maciço da população à oferta, feita pelo prefeito, de instalações para sediarem o novo campus.
As instalações já existem e estão à disposição do Ministério da Educação
A retomada da expansão dos institutos federais será fundamental para o próximo salto de crescimento econômico e social que se aproxima. Neste momento em que os recursos federais são limitados, é estratégico utilizar estruturas existentes para viabilizar a implantação de novos campi com menor dispêndio de recursos.
O caso de Botucatu é muito favorável neste sentido. As instalações oferecidas são do antigo Centro de Treinamento da Companhia Energética de São Paulo, projetado já como um campus de ensino técnico e tecnológico. Conta com pavilhões de salas de aula, blocos administrativos, refeitório para 150 alunos simultaneamente com cozinha industrial, tudo isso com uma elegante arquitetura concebida em 1962 pela equipe das Usinas Elétricas do Paranapanema S.A, coordenada pelo arquiteto Hélio Pasta. As linhas horizontais sutilmente ritmadas pelos elementos vazados e pelas paredes perpendiculares em pedra dão ritmo aos blocos administrativos; nos blocos de salas de aula, prevalece uma linguagem mais próxima das Case Study Houses californianas, com materiais industrializados e modulações encadeadas de caixilhos e estrutura metálica. O paisagismo original é de Roberto Coelho Cardozo, do qual restam ainda alguns elementos, notavelmente a fileira de falsas seringueiras ao centro do conjunto.
Nas décadas de 1970, 1980 e 1990 do século 20 foram feitas cuidadosas ampliações e adaptações por uma qualificada equipe local de projeto e manutenção. A implantação urbanística do conjunto merece um trabalho cuidadoso de recuperação do paisagismo.
As edificações se encontram implantadas em amplo terreno de 100 mil metros quadrados, situado em região elevada (aproximadamente 900m de altitude), exatamente sobre o divisor de águas entre o Tietê (fundos do terreno) e o Paranapanema (acesso ao terreno). Ao lado deste terreno, há outra gleba de 370 mil metros quadrados também pertencente à prefeitura e hoje parcialmente utilizada para recomposição florestal, que pode ser objeto de pesquisas para melhor conhecimento das especificidades do cerrado nesta região de transição em que convive com mata atlântica e araucárias, e também pode ser parcialmente utilizada para expansão das instalações do campus, dando-lhe um gigantesco potencial de desenvolvimento de longo prazo, que poderá torná-lo um centro tecnológico de primeiro nível com conexões internacionais.
nota
1
O grupo de trabalho pela implantação do Campus Botucatu do Instituto Federal de São Paulo é formado pelos professores Fernando Portella Rodrigues de Arruda, Paulo Renato de Paula Frederico e Ronald Ribeiro Alves, do Campus Avaré, e João Fernando Blasi de Toledo Piza, do Campus São Paulo, além de representantes da sociedade civil (Ricardo Grecco e João Batista de Oliveira) e da Prefeitura Municipal de Botucatu (Cláudia Gabriel, Secretária de Educação; Fillipe Martins, Secretário do Verde; Gilberto Marioto Peres, Secretário de Governo e José Gustavo Celestino de Campos, Secretário Adjunto de Educação).
sobre o autor
João Fernando Blasi de Toledo Piza é arquiteto e urbanista (2002), mestre (2007) e doutor (2015) pela FAU USP. É docente do curso de Arquitetura e Urbanismo do Instituto Federal de São Paulo e atua como consultor em projetos de arquitetura e urbanismo.