Inquietações de um filósofo
Beatriz de Abreu e Lima & Mônica Schramm
Qualquer pessoa que tenha se ocupado em propor uma solução espacial ou resposta física para um problema, por mais simples que seja, provavelmente se deparou, num certo momento, com decisões estéticas e, provavelmente também teve que optar por uma maneira de fazer, ou seja, recorrer a algum tipo de “saber“.
Decisões e opções, em um processo de criação, são feitas a todo momento. No caso da arquitetura poderíamos nos questionar, por exemplo, sobre a razão de utilizarmos certas topologias e não outras; sobre o sentido de renderizar ou não um modelo tridimensional; sobre a validade de usar o croqui como instrumento de investigação; sobre o porquê de nos ocuparmos tão intensamente com questões relativas à forma; sobre como projetar e que instrumentos utilizar.
O filósofo Andrew Benjamin, nesta entrevista, incita o arquiteto a fazer do ato de projetar um ato de pensar e questionar, seja no âmbito acadêmico ou na prática, valorizando um estado de consciência que implica um processo contínuo de tomada de decisões.
Esta disposição filosófica para a crítica, avaliação e re-avaliação sem preconceitos, dá margem, por exemplo, a refletirmos sobre como pode ser projetar digitalmente.
Como nos diz Andrew Benjamin, “o Projeto Assistido por Computador (CAD) traz consigo seus próprios problemas teóricos e arquitetônicos”, mostrando que a inserção em uma sociedade informatizada não substitui a atividade do “pensar”.
Contexto
Esta entrevista com o filósofo Andrew Benjamin, juntamente com as entrevistas com o arquiteto Patrik Schumacher e o engenheiro Charles Walker, disponíveis neste mesmo site, compõem (ou recompõem) um importante cenário. Estas pessoas têm em comum o fato de possuírem alguma ligação com a Architectural Association School of Architecture, a AA School de Londres (1) e mais especificamente com o seu Design Research Laboratory – DRL (Laboratório de Pesquisa em Projeto), cujas investigações digitais abordam temas relativos a arranjos e organizações espaciais e sociais emergentes.
As entrevistas foram feitas em Londres, em janeiro de 2000, pela ocasião do término de meus estudos de mestrado no DRL/AA. A idéia de realizá-las surgiu de forma intuitiva tentando reunir óticas diversas de uma realidade multifacetada. No entanto, as entrevistas apontam para a complementaridade dos pensamentos dos entrevistados e para a adequabilidade de seus discursos ao contexto europeu comunitário e globalizado.
Nota-se, também, o marcante caráter interdisciplinar e difuso da atuação profissional dos entrevistados.
O cenário delineado assume relevância por sua própria lógica e coerência, abrindo todo um campo de possibilidades para pensarmos simultaneamente sobre o contexto brasileiro.
nota
1
Architectural Association School of Architecture, a AA School, ou simplesmente AA, é uma escola de arquitetura dirigida pela Architectural Association, entidade independente, fundada em 1847 em Londres, para promover o livre debate sobre arquitetura. É uma escola reconhecidamente engajada em discursos contemporâneos de arquitetura, constituindo um efervescente centro de debates.