Beatriz de Abreu e Lima: Michel Foucault sugeriu que este século seria conhecido como Deleuziano. O senhor também pensa assim?
Andrew Benjamin: É muito difícil comentar sobre modismo intelectual. Eu acho perigoso dar muito significado a nomes próprios. Eu acho que certamente Deleuze se preocupa - e eu acho que o mesmo se pode dizer de vários outros filósofos, arquitetos e teóricos - em tentar se distanciar das Teorias de totalidade, ou Teorias que são dominadas por questões centrais. Eu acho que Deleuze é parte de um movimento filosófico, no qual eu me incluiria, que toma a pluralidade, uma pluralidade ontológica, como momento fundamental e por isso preocupa-se com questões de como lidar com a ilimitabilidade da pluralidade. Então, se é Deleuziano, ou não, é uma outra questão. O que seria uma questão interessante é o fato de como se pensa a pluralidade, como se pensa o cosmopolitanismo, como se pensa a diferença. Todas estas questões, eu acho, dominam um certo tipo progressivo de atividade filosófica ou teórica. E, na Arquitetura, surge a questão de como são aproveitadas estas idéias; geralmente abordadas no nível da produção de formas e em termos da idéia da Arquitetura cosmopolita. Uma Arquitetura que não é nem vernacular nem internacional, mas, de certa forma, cosmopolita.
BAL: E com relação ao vernacular, inscrito numa economia global?
AB: Eu acho que a globalização só pode ser compreendida pari passu com a regionalização. As duas coisas não existem separadamente. O Estado Nação perde importância como influência organizadora, tornando-se fundamentais as regiões. Como se define regiões torna-se uma questão importante, as regiões é que são fundamentais e existem em relação ao global. A resposta sobre a globalização é que ela não pode ser pensada fora da relação com a regionalização, e eu acredito muito nisso. Em termos da cidade virtual, quero dizer que, até certo ponto este termo é uma metáfora (e muito persuasiva), mas eu acho que o que faz é testar a verdade do jogo entre o regional e o global. Por exemplo, do escritório pode-se contactar todo o mundo através da internet e do e-mail, ter acesso à informação e trocar idéias de maneira que não eram possíveis antes. No entanto, isto sempre tem efeitos regionais. Logo, a cidade virtual não é verdadeiramente virtual, porque é ao mesmo tempo global e regional. Acho que precisamos pensar a relação entre estas duas coisas, o global e o regional.
BAL: Mas quando o senhor menciona o regional, também o relaciona ao nacionalismo?
AB: Não, e eu acho que esta é exatamente a questão. O que é interessante sobre o regionalismo é o fato de ser uma concepção de espaço, e até de geografia, se você preferir, determinada pela localização. Não é determinada por raça, história, ou etnia. Embora todas essas coisas apareçam, eu acho que o regional tem que ser sempre visto como o oposto do nacional.