Beatriz de Abreu e Lima: De que maneira o senhor enxerga a sua participação como filósofo em atividades acadêmicas nas escolas de Arquitetura, inclusive como crítico convidado para bancas examinadoras de projetos de estudantes de pós-graduação na Architectural Association?
Andrew Benjamin: Eu acho que o que caracteriza a Architectural Association, e que também vale para outras escolas de Arquitetura, é o modo como, por muitos anos, os filósofos têm representado um papel dentro da escola, tanto introduzindo textos explicitamente teóricos ou filosóficos, como levantando questões próprias do design/projeto e da produção de formas; sem que isso seja feito no estúdio/atelier, onde o que importa é a atividade do design/projeto. Faz parte do processo em que estou envolvido conseguir com que os estudantes pensem, por exemplo, sobre a questão da superfície e da produção de formas e avaliem e julguem questões relacionadas com a forma, sem que sejam avaliações e julgamentos acontecendo exclusivamente no nível do design/projeto. É meu objetivo oferecer meios teóricos e filosóficos com os quais abordar a questão. Acho muito importante que as escolas de Arquitetura envolvam profissionais de outras disciplinas, especialmente pelo fato de que isso faz com que os estudantes - e os estudantes estão interessados em Filosofia e Teoria - pensem sobre como eles relacionariam questões filosóficas e teóricas com o seu trabalho como designers. A Filosofia não pode dizer tudo, a Teoria não pode dizer tudo, mas Filosofia e Teoria podem fornecer modos de pensar sobre estas questões (…) Eu não acho que se deva ver a Arquitetura como uma tradução da Teoria, mas ver a Teoria como já inerente às preocupações arquitetônicas, e não transferida para estas preocupações.
BAL: Em suas aulas o senhor aborda a questão do “literal”. “Uma dobra é uma dobra, uma rosa é uma rosa, uma superfície é uma superfície”…
AB: O problema do literal é simplesmente este: se pegássemos a noção Deleuziana de dobra, ou a noção de Derrida de deconstrução e perguntássemos o que são estas coisas em Arquitetura…bem, a resposta literal é produzir um prédio que seja literalmete “dobrado” ou literalmente “deconstruído”. O literal é muito sedutor, porque é fácil. No entanto, se o modo como a dobra - a idéia filosófica da dobra, que vem de Leibniz e foi tomada por Deleuze - se isto vai aparecer na Arquitetura, e não é para aparecer literalmente, como aparece? Então, não existe uma resposta direta para esta pergunta, mas é uma boa pergunta. Então, se livrar do literal é permitir que questões surjam como questões; e questões pedagógicas e teóricas sem respostas diretas são muitíssimo importantes, elas fazem as pessoas pensarem. Então, se eu uso como estratégia a introdução do literal para dizer, bem, se não é literal o que é ? Este é um passo que abre todo um campo de possibilidades… e eu estou revelando meus segredos!