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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
"Por debaixo do pano, os paulistas estavam disputando o museu, mas não assumidamente. Depois, quando ficou claro que era o Rio que ia ficar com o museu, aí, pau!" Este e outros comentários contundente poderão ser lidos na entrevista exclusiva de Sirkis

english
"Underneath the cloth, Sao Paulo was disputing the museum, but not openly. Then, when it became clear that Rio de Janeiro was going to keep the museum, then, bang!" This and other comments can be read in an exclusive interview with Sirkis

español
"Por debajo de la mesa, los paulistas estaban disputando el museo, pero sin asumirlo. Después, cuando quedó claro que Río iba a quedar con el museo, ahí, ¡pa!" Este y otros comentarios contundentes podrán ser leídos en la entrevista exclusiva de Sirkis

how to quote

BARBOSA, Antônio Agenor. Alfredo Sirkis. Entrevista, São Paulo, ano 04, n. 013.02, Vitruvius, jan. 2003 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/04.013/3338>.


Praça Agripino Grieco e área pedestrianizada no Méier
Foto Acervo M&T [fonte: Projeto Rio-Cidade, Projeto Mayerhofer & Toledo Planejamento e Arquitetura]

Antônio Agenor de Melo Barbosa: O senhor é um dos fundadores do Partido Verde no Brasil. Fale um pouco sobre o partido, da sua inserção atual na sociedade brasileira e por que, ao contrário do que ocorre em países europeus, o PV ainda é um partido muito pequeno e com pouca representatividade no Brasil.

Alfredo Sirkis: Pequenos todos os partidos verdes foram em algum momento. Quantitativamente o PV cresceu muito nestas últimas eleições. Elegeu cinco deputados federais, 11 estaduais. Tem um ministro da Cultura, o Gilberto Gil. Mas o PV é frágil, dividido, não consegue escapar a certos vícios da cultura política brasileira, um partido que ainda está muito aquém das nossas expectativas e da necessidade histórica que existe em relação a ele. Temos a chance de uma nova etapa. Esperamos não desperdiçá-la como já ocorreu tantas vezes...

AAMB: O senhor foi vereador por três mandatos na cidade do Rio de Janeiro. Foram, portanto, 12 anos como legislador municipal. Gostaria que nos falasse a respeito das suas principais contribuições neste período.

AS: Fui responsável pelos capítulos de meio ambiente da Lei Orgânica e da Lei do Plano Diretor. Criei numerosas APAS como a da Prainha, Marapendi, o Bosque da Freguesia, a APA São José. Criei a lei de incentivos fiscais que viabilizou o Fórum Global 92 durante a Rio 92, presidi a CPI da segurança clandestina e aprovei dezenas de leis. Como vereador convenci o então Prefeito Marcello Alencar a construir as primeiras ciclovias na cidade do Rio de Janeiro.

AAMB: Durante os anos 90, mesmo pertencendo a um partido de oposição ao Governo Federal (PV), o senhor ocupou cargos de destaque e de confiança na primeira administração do Prefeito César Maia (de 1993 a 1996), então no PFL que compunha a base de apoio ao Governo de FHC. O senhor não considera contraditória esta sua postura?

AS: Divertida essa pergunta quando temos o PL no governo, o Sarney e o ACM como aliados do Lula no segundo turno, e agora com grande influência. Também vemos quadros econômicos do PSDB em postos chaves da condução econômica do Governo Lula...

Conheço o César Maia desde a época do exílio, no Chile. Na época da ditadura ele foi preso, em Minas, torturado. Depois o reencontrei no PDT do Brizola, parte da esquerda da Constituinte. O César é, na essência, um administrador público social-democrata, essa é sua ação. Politicamente, é desencantado com os partidos políticos, que acaba utilizando como táxi. Depois do PDT esteve no PMDB, no PFL, no PTB aliado ao PPS, voltou ao PFL. Trata isso com um pragmatismo total. Tenho restrições ao César, político, e concorri com ele no primeiro turno das eleições para prefeito em 2000. Em 96 apoiei o Sérgio Arouca (PPS), não o Luiz Paulo Conde.

Minha identidade com o César se dá no plano do eu chamaria de “Partido do Rio”. Da identidade carioca. Com o passar do tempo as ideologias se relativizam, as idéias grandiloqüentes e as propostas nacionais decepcionam e cresce para mim, cada dia mais, a importância central do Rio de Janeiro. A paixão pela Cidade. O César é um grande gestor público, também ama o Rio, e em relação às coisas da Cidade nossa proximidade é muito grande. A maior parte do tempo é um cara ótimo de se trabalhar, nos dá muita liberdade, espaço para criar, realizar. Nossos acordos são programáticos e minha liberdade de movimentação partidária e política no plano estadual e federal assegurada. Nesta eleição apoiei o Lula e lancei a candidatura da Aspásia Camargo aqui no Estado do Rio.

As realizações no âmbito ambiental e urbanístico desta relação aparentemente contraditória e, evidentemente, não isenta de tensões, foram até hoje altamente benéficas para a Cidade. Digo mais: gosto de trabalhar com o César Maia porque aprendo todos os dias a melhorar minha performance como gestor público. Tem um outro lado dele que é complicado, difícil, mas a vida é complicada.

O essencial é que é uma relação política de confiança pessoal, respeito e cuidadosa administração das diferenças políticas que vem sendo boa para ambos e, sobretudo, para a Cidade.

AAMB: Também durante o Governo Garotinho, opositor de César Maia, muitos quadros do PV participaram ativamente da administração do Governo do Estado, inclusive à frente da Secretaria Estadual de Meio Ambiente. Nas últimas eleições, o PV também não apoiou oficialmente a candidata do Prefeito e lançou uma candidatura própria ao Governo do Estado. Outra questão que se impõe é: além de pequeno, o PV é um partido rachado e até frágil ideologicamente?

AS: O que aconteceu no PV do Rio foi uma tragicomédia. Você pode participar de governos onde você tem discordâncias mas não violentar seus princípios. Tive divergências no primeiro governo do César Maia em relação aos projetos para o Morro Dois Irmãos (no Leblon) e para o Rio Cidade em Copacabana. Por acaso minha posição acabou convencendo e prevalecendo. Nunca fui obrigado a aprovar uma “Sepetiba I e II”, por exemplo. O garotismo é um fenômeno político de um populismo primitivo onde o tipo de diversidade com a qual o César Maia convive não seria possível. Quanto à candidatura ao governo apenas prova nossa autonomia política apesar da subordinação administrativa. Quanto ao PV, é efetivamente frágil e rachado. Quem sabe agora a gente supera isso?

AAMB: O senhor foi um dos responsáveis diretos pela criação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro em 1993 e permaneceu no comando da Pasta até 1996. A despeito do fato positivo que foi a criação desta secretaria, fica aqui a pergunta: como eram equacionadas e resolvidas questões relativas ao meio ambiente nesta nossa Metrópole antes da criação da secretaria? Quais as ações concretas empreendidas durante a sua gestão?

AS: Antes da criação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente tudo dependia do Estado e isso não funcionava. Em 1993 criamos a SMAC. Foi uma guerra, pois houve muita resistência de vereadores à Lei que a criou. Foi rejeitada duas vezes e só emplacou na terceira, já em 1994. Até este momento eu era o secretário extraordinário.

Aí estruturamos a fiscalização ambiental que travou batalhas memoráveis como no Joá, na Via Parque, no alto da Gávea, na lagoa de Marapendi contra grileiros. Desenvolvemos o mutirão de reflorestamento em 47 comunidades. Os mutirões reflorestaram mais de mil hectares com a mão de obra das favelas educando ambientalmente e profissionalmente jovens que sem isso teriam sido preza fácil do tráfico de drogas. Hoje formam uma cooperativa de serviços de arborização chamada “Coopflora”. Implantamos a maior malha cicloviária do país. Implantamos novos parques como o da Freguesia, em Jacarepaguá, Marcelo Ipanema, na Ilha do Governador, o da Prainha e outros. Começamos a mexer com os esgotos com o Conselho das Águas da baixada de Jacarepaguá e a partir daí começamos a implantar a rede no Recreio. Na administração seguinte esta estrutura foi retirada da SMAC e transformada em “Rio-Águas”.

Travamos conflitos e negociamos suas solução com vantagem para a Cidade no caso dos “Dois Irmãos” onde impedimos que fossem construídos um hotel e dois edifícios, transferimos aquele potencial construtivo ganho na justiça para a Barra da Tijuca e fizemos o projeto do parque mais lindo do Rio, que hoje se chama Parque Sergio Bernardes. Deixei a secretaria de meio ambiente com 87% de aprovação.

AAMB: A primeira administração do Prefeito César Maia deixou como principais marcas os projetos “Rio-Cidade” e “Favela-Bairro”, que mereceram uma avaliação positiva dos cariocas, credenciando eleitoralmente o então Secretário de Urbanismo Luiz Paulo Conde – atual Vice-Governador do Estado e responsável na ocasião pela implementação dos projetos – ao cargo de prefeito sucessor. Qual a avaliação objetiva que o senhor faz hoje destes projetos, realizados por uma administração da qual o senhor também participou à frente da Secretaria de Meio Ambiente.

AS: O primeiro governo do César Maia o credenciou a eleger seu sucessor que depois de eleito dele se afastou. Mas o César Maia volta à Prefeitura numa campanha paupérrima, em condições tremendamente adversas, contra as então três maiores lideranças políticas do Estado. Constata-se então que foi um bom governo, pois o César não é um líder carismático mas a população o respeita como um gestor sério e competente. A população quer um prefeito assim. Considero o atual governo melhor. Temos tido menos conflitos e vejo o César mais preocupado com as questões sociais, fato que a mídia, curiosamente, ainda não percebeu. É um absurdo não verem o trabalho que está sendo feito na secretaria de educação em relação ao pré-escolar, à educação infantil, à escolarização das crianças em idade pré-escolar que é algo de um alcance histórico inimaginável. Não dá manchete de jornal, nem notinha.

AAMB: Como sabemos, o termo “Política” deriva de “Pólis”, aquela comunidade urbana fundada pelos gregos, cujo princípio básico era o da representatividade e da democracia. Para exercê-la publicamente, possuíam a Ágora como um espaço símbolo da idéia de Pólis. O senhor, que é conhecido por fazer a apologia do “Poder Local”, como analisa atualmente esta relação entre a cidade do Rio de Janeiro (Pólis) e a política, já que hoje em dia os espaços públicos da cidade parecem perder, paulatinamente, o seu significado e importância?

AS: A defesa do espaço público é a base da nossa estratégia. Abomino o modelo modernista justamente porque nega o espaço público, nega a calçada, a praça, a convivialidade dos bairros, isola os usos, isola as pessoas, isola socialmente. Cria uma dependência aguda do automóvel. Massacra o comércio lojista, destrói a diversidade urbana. Sou anticorbusiano! Embora admire alguns modernistas enquanto arquitetos, abomino sua visão urbanística ou, melhor, antiurbanística. Sou adepto do tecido urbano tradicional e do espaço público como base territorial de exercício da cidadania. Sou um adepto das idéias de Jane Jacobs.

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013.02
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013.01

Patrik Schumacher

Beatriz de Abreu e Lima and Mônica Schramm

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