Antônio Agenor de Melo Barbosa: Quais são os principais projetos da Prefeitura para a cidade nesta segunda administração do Prefeito César Maia?
Alfredo Sirkis: Os projetos atuais são a revitalização do centro com estímulo à moradia; o Circo Voador na Lapa e Rio Cidade na Rua do Riachuelo para estimular o pólo de entretenimento e o uso residencial; o Centro de Convenções na Cidade Nova para atrair o turismo; a Revitalização da área portuária com dezenas de intervenções no espaço público que seria longo enumerar; em Madureira, a criação de um grande parque, a requalificação e conseqüente definição de uma nova centralidade. Na Zona Oeste, a ciclovia Bangu-Camará-Campo Grande pela Av. Santa Cruz. É um lugar onde mais se usa bicicleta na cidade e onde mais ciclistas morrem atropelados.
Em Botafogo, um projeto “Rio Cidade” na Rua São Clemente, na Rua Nelson Mandela temos a idéia de requalificar aquele horrendo mijódromo, que bloqueia a revitalização espontânea que parte dos dois cinemas próximos. Em Vargem Pequena e Vargem Grande, temos o projeto “Veneza Carioca” , como na nova lagoa-bacia de acumulação, canais navegáveis, um novo conceito ecológico de ocupação. E por aí vai. São muitos outros projetos.
AAMB: O senhor está há dois anos no comando da Secretaria Municipal de Urbanismo e acumula a Presidência do Instituto Pereira Passos. Qual é o balanço que faz a respeito deste período e quais foram as ações e projetos mais relevantes que já foram executados até o momento? Também gostaria que o senhor mencionasse quais são os planos da SMU para os próximos dois anos que restam do mandato do Prefeito César Maia.
AS: Penso que na SMU avançamos muito na reforma da legislação urbanística mas está tudo bloqueado na Câmara de Vereadores: PEUS, Regulamentação do Estatuto da Cidade, Regularização Onerosa, Pequenas Edificações, Lei do Compur, Áreas agrícolas que já perderam este caráter, Impacto de Vizinhança, umas 20 leis, todas paradas... Estamos modernizando os procedimentos, informatizando, dando total transparência e sobretudo instituindo o diálogo permanente com as associações de moradores e os construtores. Fizemos junto com a Secretaria Municipal das Culturas as APACs (Áreas de Proteção do Ambiente Cultural) com mais de 1500 imóveis preservados, criamos dezenas de ruas com áreas de crescimento limitado. Agora temos o desafio de preparar a Cidade para os Jogos Pan americanos de 2007, talvez o Mundial de Natação logo depois e quem sabe, tentar de novo, os Jogos Olímpicos.
AAMB: O senhor já se revelou um crítico bastante ácido das idéias modernistas cujo maior exemplo está materializado na Barra da Tijuca. Quais são os pensadores que o influenciaram nos temas do urbanismo, desenvolvimento sustentável e planejamento urbano?
AS: Já me referi à Barra da Tijuca. Penso que naquela época o pensamento dominante era o modernismo. Lúcio Costa foi um grande homem, um grande arquiteto, uma figura impoluta. Mas grandes homens, por vezes, cometem grandes erros decorrentes das circunstâncias históricas nas quais estão inseridos. Juscelino Kubitschek foi um grande Presidente, mas tenho seriíssimas dúvidas se Brasília foi realmente uma boa idéia. Como carioca penso que não... Meus mestres no urbanismo e eco-urbanismo são Jane Jacobs, Roberta Ganz, Anne Whinston Spirn. Minhas mestras, melhor dizendo, pois curiosamente são todas mulheres.
AAMB: O atual Vice-Governador Luiz Paulo Conde é o atual Secretário Estadual de Meio Ambiente e de Desenvolvimento Urbano do Estado do Rio de Janeiro, duas secretarias distintas que foram unidas. Como será a relação da sua pasta com a nova secretaria, já que se o senhor faz parte de uma administração que se opõe ao Governo Estadual recém empossado?
AS: Pretendo manter um relacionamento civilizado e de cooperação com todos os integrantes do Governo do Estado. A população exige que trabalhemos juntos.
AAMB: Qual o montante de verba destinada para a SMU anualmente? É um valor satisfatório?
AS: Minha verba é pequena, mas suficiente. Faço projetos, articulo estratégias, mas não executo obras.
AAMB: Na sua opinião, quais são as principais virtudes e os principais problemas e desafios que a cidade do Rio de Janeiro revela àquele que está à frente de sua administração?
AS: O Rio é a cidade mais linda do mundo. Isso torna a responsabilidade de governá-la imensa, por outro lado desperta paixão. A gente trabalha com paixão. E também o corpo técnico permanente da Prefeitura do Rio é de altíssima qualidade. É um privilégio trabalhar com esses quadros.
AAMB: Na sua opinião, e com base na sua grande experiência política na esfera local, a cidade do Rio de Janeiro já se recuperou do trauma que foi a transferência da capital para Brasília ou ainda está inserida num “período de perdas” conforme a observação do Professor Carlos Lessa em seu livro mais recente O Rio de todos os Brasis ? Até que ponto estas perdas econômicas influenciaram os graves problemas sociais e urbanos que ainda afligem o Rio de Janeiro?
AS: A transferência da capital e, sobretudo, o estupro da fusão com o antigo Estado do Rio foi um trauma histórico. No segundo caso uma vingança canalha da ditadura militar contra a cidade que mais resistiu a ela.
AAMB: Gostaria de saber até que ponto a gestão do Município ainda carrega vícios e posturas decorrentes do modelo centralizador (e, não raro, autoritário) de desenvolvimento em voga nas décadas de 60 e 70, capitaneado pela ideologia do rodoviarismo.
AS: O rodoviarismo é um fato. Uma cultura dificílima de superar. Arraigada na administração, arraigada na classe média e arraigada na juventude, o que é pior. Outro problema é a ausência de uma instância metropolitana ou de uma autoridade sobre ecossistemas, tipo uma “Autoridade da Baia da Guanabara”, por exemplo.
AAMB: Questões como transporte, habitação, meio ambiente, saneamento básico, infra estrutura urbana, coleta de lixo e códigos edilícios, entre outros, são itens da maior afinidade com a sua pasta. Como são discutidas e executadas estas ações conjuntas em uma administração metropolitana tão complexa quanto a do Rio de Janeiro?
AS: Justamente, não há política metropolitana. A política de saúde dos municípios da baixada é comprar ambulância para trazer os doentes ou acidentados aos hospitais do Rio. No Programa de Despoluição da Baia da Guanabara (PDBG) os municípios não têm peso algum, e por aí vai.
AAMB: Como a Secretaria de Urbanismo pretende adaptar a sua conduta em relação à normativas estabelecidas pelo Estatuto da Cidade, que é uma Lei Federal que trata das diretrizes gerais para a Política Urbana?
AS: Tenho pronto um projeto de lei regulamentando os instrumentos sociais e urbanísticos do Estatuto da Cidade. Depende dos vereadores que em dois anos não votaram um único projeto de lei urbanístico elaborado pela SMU.