José Mateus: Um dia e curiosamente por recomendação de um arquiteto com quem trabalhou – Fernando Pinto Coelho – telefonou-lhe a cliente…
João Mendes Ribeiro: Foi, e disse-me que achava que eu era a pessoa indicada para recuperar um edifício agrícola que tinha em Cortegaça. Tratava-se de um conjunto articulado de construções de várias épocas e obedecendo a lógicas diferentes: uma adega, uma casa de habitação e a Sul, junto ao pátio, o edifício a recuperar: um palheiro em ruínas.
JM: Já havia a idéia de transformar o palheiro numa habitação ou era uma questão em aberto?
JMR: A cliente já tinha a intenção de fazer uma pequena habitação para aí se poder reunir com os amigos. Era acima de tudo um pretexto para recuperar o palheiro. Inicialmente a sua idéia era unir o palheiro à casa principal através de um volume contendo várias salas. Achei que isso não faria sentido pois na casa principal existiam já muitos quartos e salas e propus um percurso de ligação que constituísse uma espécie de corredor-garrafeira. Seria uma ligação dissimulada e que assegurasse a autonomia das construções.
JMR: Sendo estas obras de recuperação mais caras e complexas, nunca pensaram demolir o palheiro e, como muitos fariam, construir no seu lugar um edifício inteiramente novo respeitando apenas a volumetria antiga?
JMR: Não, porque achamos sempre que o palheiro, embora sendo um espaço condicionado e de pequena escala, possuía inúmeras qualidades: era interessante como equipamento agrícola, não só em termos dos sistemas construtivos e da composição mas também em termos de espaço interior. Gostei da sua implantação e do modo como se relacionava com a casa principal, com a quinta e com a paisagem envolvente. Era um edifício modesto, mas com muitas qualidades (melhor que muitas construções recentes).