José Mateus: Uma das dificuldades dos projetos de recuperação é eleger aquilo que permanece, o que se deve demolir, etc… No limite, todas as partes são antigas, importantes. Como é que faz essa escolha?
João Mendes Ribeiro: É muitas vezes um processo intuitivo. Tento sobretudo saber olhar, perceber o que é estruturante, entender os sistemas construtivos, a organização e tipologia do edifício, e depois inserir o programa funcional realizando apenas as intervenções absolutamente necessárias para cumprir as novas necessidades.
JM: Quais são as mais-valias de um projeto de recuperação relativamente a um edifício novo?
JMR: Aquilo que me parece mais importante e estimulante é a existência de regras muito claras e a possibilidade de trabalhar uma estrutura preexistente acrescentando-lhe matérias novas.
JM: Mas trabalhar com essas regras não pode tornar-se uma limitação à criatividade?
JMR: Antes pelo contrário, a existência dessas regras permite evoluir depressa e obter resultados bastante interessantes. E este foi o caso, dado que não possuía grandes imposições de programa e entendi muito rapidamente o que tinha de fazer.
JM: Ganha-se também complexidade com a justaposição de tempos diferentes…
JMR: Isso é muito interessante. O fato de trabalhar uma construção agrícola, uma peça de pequena escala, onde às referências do mundo rural, como por exemplo os lavatórios dentro dos quartos, como existia na casa do meu avô, acrescento outros modelos decorrentes de uma arquitetura urbana contemporânea. Isso se observa também em aspectos como o mezanino, o pé-direito duplo da sala, ou no modo como são desenhados os sanitários. Outro aspecto interessante é a utilização de materiais tradicionais, atualmente em desuso, como o óxido de ferro misturado nas argamassas que confere um tom encarnado muito bonito. São soluções que se perderam mas que eram utilizadas até há pouco tempo na arquitetura tradicional. Neste projeto, essas soluções são utilizadas para criar uma imagem contemporânea.