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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
O arquiteto e cenógrafo português João Mendes Ribeiro, fala de arquitetura efêmera, reciclagem e cenografia em entrevista a José Mateus, arquiteto do ARX Portugal

english
The architect and designer Portuguese João Mendes Ribeiro, speaks about ephemeral architecture, recycling and stage design in an interview with José Mateus, ARX Portugal architect

español
El arquitecto y escenógrafo portugués João Mendes Ribeiro, habla de arquitectura efímera, reciclaje y escenografía en la entrevista de José Mateus, arquitecto del ARX Portugal

how to quote

MATEUS, José. João Mendes Ribeiro. Entrevista, São Paulo, ano 05, n. 020.04, Vitruvius, out. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/05.020/3320>.


Vista de frente do quiosque da expo 98
Foto João Mendes Ribeiro

José Mateus: Há no modo como avalia o papel da plantação de milho, mas também, no aspecto aparentemente transitório ou efêmero de algumas soluções dos seus projetos, reflexos da sua experiência como cenógrafo de espetáculos de palco?

João Mendes Ribeiro: Eventualmente. As duas atividades não são estanques, há níveis de intersecção. Mas apesar de a cenografia e a arquitetura serem duas disciplinas distintas, a verdade é que em termos de metodologia de trabalho não encontro grandes diferenças.

JM: Mas quais serão essas diferenças?

JMR: As principais diferenças decorrem da perenidade da arquitetura em contraste com o caráter efêmero da cenografia. Outro aspecto que distingue os processos de concepção em arquitetura e em cenografia, é por, um lado o tempo/ritmo e por outro a proximidade entre o ateliê (projeto) e a oficina (construção/experimentação). Em cenografia, testar as soluções na oficina é simultâneo com o ato de projetar. Inicialmente desenhava o projeto completo e só depois me envolvia com a construção, na oficina. Com a experiência percebi que essa não era a metodologia mais adequada, pois tinha muito a aprender com os técnicos do teatro e passei a testar com eles as soluções, antes de concluir os desenhos. A verdade é que o trabalho de cenografia tem um caráter muito mais experimental resultante dessa forte articulação entre ateliê e oficina. Num projeto de arquitetura, tudo tem de ser previamente definido na prancheta.

JM: E em que difere pensar um espaço arquitetônico ou um cenário para teatro ou dança?

JMR: Quando faço arquitetura penso mais na relação do meu próprio corpo com o espaço, como um corpo abstrato. Quando concebo cenografias penso em função dos corpos dos intérpretes. O diálogo que eu tenho com os intérpretes, que vão habitar o espaço cênico, é naturalmente mais intenso e personalizado. Mas a relação que crio entre o espaço, os objectos cênicos e os atores é em boa medida ditada pelo guião (1) e nisso difere da arquitetura. Embora no caso do palheiro houvesse um "guião" (a preexistência e o objetivo de a recuperar), frequentemente isso não acontece: muitas vezes há um relativo desfasamento entre as intenções dos interlocutores. Na arquitetura, em cada projeto conhece-se um novo cliente e parte-se um pouco do zero. No teatro e na dança tenho tido a oportunidade de trabalhar repetidas vezes com as mesmas pessoas e por isso já existe um entendimento e uma cumplicidade que permitem partir facilmente para situações experimentais.

JM: Nos seus primeiros trabalhos em cenografia esse sentido experimental não existia?

JMR: Quando desenhei a primeira cenografia, as dúvidas levaram-me a “jogar” pelo seguro e a trabalhar com aquilo que conhecia. Depois fui sendo “contaminado” por outras áreas artísticas e acabei por desenvolver um tipo de experiências nas quais se reconhecem uma série de pontos de contato com a arquitetura.

JM: Há coisas que faz quando trabalha para o palco do Teatro que depois transporta para o palco real da vida das pessoas?

JMR: Diretamente não, mas pelo fato de fazer mais trabalhos de cenografia acumulo uma série de experiências que me levam a descobertas úteis em termos operativos e conceituais também nos projetos de arquitetura. Quando fiz os quiosques da Expo 98 e os apresentei ao arquiteto Manuel Salgado no período de avaliação, expus-lhe a minha solução que possuía diversos mecanismos aparentemente complexos e inexequíveis. Perante a dúvida se não seria uma solução demasiado complicada, eu convenci o júri mostrando-lhes alguns cenários com mecanismos semelhantes que tinha feito para a Olga Roriz. No projeto que desenvolvi para Rivoli em Turim, pôde verificar-se uma forte ligação em termos conceituais da arquitetura com a dança. Como se tratava de desenhar uma escada mecânica, uma espécie de condutor de espaço que levava as pessoas de um ponto para outro, construí uma "arquitetura de movimento". Um espaço contínuo e orientado, funcionando como um somatório de ações e reações ritmadas e intensas, construído a partir dos deslocamentos. Os temas e a terminologia que utilizei provém da dança, como a noção de movimento condicionado – a dança é quase sempre feita de gestos ensaiados, de espaçamento, de respiração, tensão e ritmo. Neste projeto desenvolveu-se uma dicotomia entre espaço-movimento-acontecimento.

nota

1
Guião
é o estandarte que vai à frente de procissões, irmandades ou tropas.

 

Centro de Artes Visuais de Coimbra. Bloco dos laboratórios
Foto Luis Ferreira Alves

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020.04
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020.01

Willy Muller

Eduardo Pasquinelli

020.02

Manoel de Oliveira

Ana Sousa Dias

020.03

José Mateus e Nuno Mateus (ARX)

Pedro Jordão and Rui Mendes

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