Adalberto da Silva Retto Júnior: A questão da história e do contexto assumiu grande interesse na França, sobretudo, porque a grande parte das intervenções foi implantada em espaços já urbanizados, em áreas abandonadas, em proximidade aos centros urbanos ou, finalmente, nas periferias desestruturadas. Nestas situações <de confronto obrigatório entre antigo e verdadeiramente antigo e o novo pela força do novo> o projeto urbano encontra a especificidade do seu papel como instrumento capaz de prefigurar uma cidade nova (ou um pedaço novo de cidade) que se confronte com a realidade urbana e social.
Quais foram, se verdadeiramente existiram, as novidades do projeto urbano na França?
Jean-Louis Cohen: A temática do “projeto urbano”, que aparece na França em torno de 1980, se não me engano, tem por objeto vários aspectos da teoria e da prática do “aménagement” do urbano e da arquitetura.
Ela se aplica efetivamente a novos territórios. Enquanto que o essencial da reflexão dos organizadores tinha como objeto as extensões virgens das periferias e, que o trabalho nos centros antigos que se tornou possível pela lei Malraux de 1962 instituindo os "secteurs sauvegardés", apenas começava, os mantenedores do “projeto urbano” dirigiram sua atenção desde os anos 80 às zonas externas das grandes cidades ou às periferias nas quais os desafios eram particularmente complexos por causa da existência de terrenos industriais em crise e de infra-estruturas.
Ela implica uma nova configuração dos atores e especialmente do domínio da produção e do domínio da criação da obra. Não há “projeto urbano” se não há interação entre as coletividades territoriais e os especialistas, ao mesmo tempo através de formas específicas de trabalho permitindo a emergência de um comando local e o controle deste no terreno através de uma outra configuração do trabalho de projeto.
Ela se fundamenta em uma maior atenção às particularidades dos territórios e dos grupos sociais concernidos. Não se trata mais de “aplicar” a um território uma abordagem standart, mas de partir do estudo aprofundado das particularidades geográficas e simbólicas e da escuta das expectativas locais para formar um projeto único que revele as especificidades tornando-se assim construtor de identidades coletivas no interior das grandes cidades.
ASRJ: Seguindo esta linha de pensamento o senhor pode construir a contribuição francesa à definição de projeto urbano.
JLC: Eu não sei se a originalidade da contribuição “francesa” se põe em termos de definição. Eu tenho a impressão que se trata de uma abordagem interessante em matéria prática. Creio que uma das particularidades francesas foi a qualidade de interação entre candidatos eleitos e projetistas, e que uma outra particularidade reside no compromisso muito eficaz dos profissionais da paisagem em todas as reflexões sobre “aménagement”. O meio criado ao redor de Jacques Simon, depois, Michel Corajoud e Alexandre Chemetoff e que continua equipes mais jovens foi muito ativo e provocaram um grande impacto em todo o resto da Europa.