Adalberto da Silva Retto Júnior: O senhor seguiu atentamente o percurso de Manfredo Tafuri ("Dall'affermazione ideologica alla storia professionale del 1999”, “Ceci n’est pas une histoire”), elencando algumas figuras que lhe serviram como referências: Giulio Carlo Argan, principalmente na sua fase romana; em negativo, o perfil de Bruno Zevi; ou ainda, a figura do intelectual crítico marginal de Walter Benjamin, pronto para revelar o sentido político dos processos artísticos, sem por isso profetizar uma estética do conteúdo. Enquanto, o senhor coloca na pessoa de Roland Barthes e na sua batalha contra a direita e a esquerda do pensamento acadêmico francês o papel decisivo no seu novo comportamento em direção à relação entre discurso histórico e critico de um lado, e arquitetura do outro. Foucault foi a referência mais evidente quando a história das “conquistas” dos Modernos estava para ser substituída pelas operações de pesquisa genealógica, que tentavam individualizar as linhas de conexões entre arquitetura dos séculos XVIII e XIX e as problemáticas contemporâneas.
No centro do seu discurso tem de qualquer forma "um ponto focal" da teoria arquitetônica italiana, assim como vem encarnada da escola de Veneza e do departamento dirigido por Manfredo Tafuri. O trabalho dos estudiosos venezianos é visto como um agente essencial para o desenvolvimento do fato arquitetônico contemporâneo, capaz de dar nova luz aos ensinamentos da história e de investigar a fundo o significado do presente que, usando as suas palavras, supera a questão da operatividade da história, e consegue passar do estudo da conjuntura àquele da estrutura, posta como fundamento da historiografia dos ‘Annales’”:
“Tafuri in effetti compie nel campo dell’ architettura il passaggio dallo studio delle congiunture a quello delle strutture, poste come fondamento della storiografia delle ‘Annales’”.
O senhor pode discorrer sobre esta afirmação?
Jean-Louis Cohen: Eu não mudei de opinião quanto à produtividade da obra de Tafuri, mas eu não a considero também como um texto sagrado onde todas as passagens seriam igualmente incontornáveis e fico, às vezes, admirado pelas glosas que esta ainda hoje provoca. É uma obra rica por suas contradições e transformações conhecidas no decorrer de aproximadamente três décadas as quais descreve. Onde seu trabalho, às vezes, encontra seus limites é justamente na investigação sobre o sentido da situação presente. Tafuri não encontrava, senão em algumas raras expressões, na arquitetura do século XX este "plaisir du texte" que ele sentia analisando os edifícios da Renascença.
O sentido desta frase é simplesmente para avançar na idéia de que Tafuri substitui uma história “événementielle”, centrada nos momentos ou ações heróicas e eventualmente re-situadas cuidadosamente no que se convencionou chamar seu “contexto”, por uma investigação sobre as determinações estruturais que é possível ver na obra em objetos isolados ou em grupos de objetos. A construção erudita de “caso” de análise a qual ele se atém, não há outra finalidade que a de permitir ao leitor ver em um elemento de construção, um desenho ou um fragmento de texto, o efeito de forças inscritas em uma estrutura diacrônica. Nesse sentido, ele se salva da tentação monográfica e de uma certa tentação narrativa, propondo uma descoberta orquestrada por uma história que vai bem além do fato arquitetural.