MC: Voltando à pergunta inicial: existem respostas possíveis através das políticas urbanas?
JB: Durante a presidência de Lionel Jospin, por exemplo, se havia implementado um sistema de policiais de proximidade que tinha muitas virtudes. Possivelmente, se ainda existisse esse sistema, não haveria ocorrido o incidente de Clichy (onde os garotos saíram correndo por temor à policia convencional), porque se tratava de uma instituição que tinha dialogo freqüente com os jovens, era conhecida no bairro e gerava mais confiança.
Em uma ocasião, participei de um seminário sobre insegurança urbana numa cidade da periferia de Lyon. Era um sábado, e quando estávamos terminando propus ao prefeito que com os expositores saíssemos para tomar algo em algum bar para continuar o debate. Com cara de susto, me disse "mas é que aqui nada está aberto a esta hora" (eram 9 ou 10 da noite...). Perguntei-lhe que faziam os jovens a esta hora então, e me respondeu que os que tinham carro iam a Lyon, o resto ficava sem nada para fazer porque não tinha bom transporte público e, em muitos casos, não tinham carro ou não tinham idade para conseguir uma licença de dirigir. Não necessita ser um experto em biologia para saber que nessa idade, os jovens necessitam mover-se, gastar energias... Que poderiam fazer em uma cidade sem bares, sem clubes, sem nada que pudesse recebê-los à noite?
Por outro lado, na segregação e guetificação há muito egoísmo em relação ao patrimônio urbano. Muitas vezes, os coletivos vicinais se opõem a que se instale uma mesquita, mas não especialmente por uma questão de descriminação religiosa, mas porque se afeta o valor do solo e das propriedades: as mesquitas desvalorizam o solo urbano. Uma vez propus a autoridades da Prefeitura de Barcelona que construíssem uma mesquita em pleno centro da cidade para dar um exemplo no sentido contrario, mas me responderam que isso era impossível porque o solo era muito caro...