Paulo Tavares: A primeira pergunta diz respeito à técnica de fotografar com longas exposições de tempo que você desenvolveu em seus trabalhos. Você poderia contar um pouco como ela surgiu e quais eram os seus interesses quando isso aconteceu?
Michael Wesely: Eu comecei, basicamente, com um interesse na “duração do momento”. A duração do momento era um interesse da fotografia nos oitocentos, quando os fotógrafos estavam dominando este campo. A fotografia não era conectada com a arte contemporânea. Foi principalmente Cartier Bresson, o grande mestre da fotografia de reportagem que estava preocupado com a duração do momento. O “momento” foi algo muito importante na minha formação como fotógrafo. Quando você trabalha em cima disso, pode-se inverter o sistema; você pode pensar o momento não como algo realmente curto, mas sim como algo extremamente longo. Assim minha investigação começou. Era uma situação, obviamente, com dois lados; uma coisa são os problemas técnicos ou demandas técnicas que o trabalho exige. Quando se chega nisto, muitas coisas podem sair erradas. É preciso uma técnica que o suporte e então você começa. Do outro lado havia a questão de estender o tempo de exposição, algo que não se pode calcular. Logo, existem problemas para serem resolvidos primeiro, para depois procurar por algo que você gostaria de fotografar.
Eu também posso dizer que o tempo nunca foi uma questão para mim, era mais sobre fotografar coisas que estavam acontecendo simultaneamente. Simultaneidade é o tipo de termo que também precisamos aqui... estruturas paralelas que estão acontecendo e... talvez estruturas não seja o termo, mas quero dizer que coisas que acontecem no planeta estão misturadas nestas fotos e estão gravadas de uma maneira mais ou menos visível. E também, lógico, a pergunta: “posso fotografar um prédio como ele é construído?” Eu diria que de 1995 em diante, eu poderia fazer uma exposição que durasse dois ou três anos.
PT: Mas e sobre os procedimentos, os materiais? Você teve que desenvolver um tipo especial de filme ou câmera para suas fotografias?
MW: Não, é um filme regular. Qualquer um pode fazer isso...
PT: Você usa uma câmera pinhole?
MW: Não, isso é muito importante entender. Eu uso câmeras pinhole para outros projetos, mas as pinholes têm um certo aspecto embaçado que não correspondia a minha idéia para as fotografias, porque muitos detalhes são perdidos. Eu gosto destes detalhes porque eles contam certas histórias, então era importante trabalhar com lentes de grande formato com esta técnica.
PT: Você falava sobre Bresson, sobre a história da fotografia... Gostaria de explorar um ponto diferente sobre este aspecto. As “exposições de longa duração” eram um tipo de limitação da técnica fotográfica anteriormente... O que quero dizer é que, de alguma maneira você está “voltando” com este tipo de abordagem técnica na fotografia... Mesmo Atget por exemplo, quando fotografava Paris, ele estava fazendo, num certo sentido, fotografias com longas exposições...
MW: Na verdade não. Muitas pessoas dizem que meu trabalho é chato porque estou indo para trás na fotografia. Nestes tempos todos estavam contentes que os pintores tinham uma “ajuda” mais eficiente para pintar e que a fotografia poderia se até mesmo melhor que a pintura... Essa era a glória da fotografia. É possível ver isso em fotografias antigas. Muitos fotógrafos tinham como tema naturezas mortas porque naquele tempo as naturezas mortas eram muito correntes na pintura. Diziam “vejam nossas fotografias, elas são melhores que as pinturas”.
PT: Eu compreendo, mas o que quero dizer é que o fato de seu trabalho “voltar atrás na fotografia” é o que parece interessante. Antes havia uma vontade de capturar o momento. Para eternizá-lo, para preservar um instante na imagem, era preciso superar esta limitação “congelando” o objeto durante um tempo. Você também está interessado no momento, mas no seu caso o momento não é algo congelado, estático. Porque é um momento extremamente longo, há uma relação com o movimento. Então, num certo sentido, você não está voltando na história da fotografia, mas você está utilizando uma potencialidade fotográfica que era entendida como uma limitação técnica.
MW:Sim, isso foi esquecido. Ninguém estava pensando que isso poderia ser investigado.
PT: ... e de fato isso é muito contemporâneo, eu acho. Porque você usa algo que se pensava até certo ponto como uma limitação, uma imperfeição, para explorar uma maneira diferente de se ver o mundo, para construir imagens da cidade.
MW: Definitivamente. Ninguém podia imaginar uma ligação entre o tempo de exposição e algo que se relacionasse ao conteúdo. Eram sempre os mesmos interesses: “se está escuro, eu preciso de um tempo longo de exposição, e se está claro, exposições curtas”. Então, esse era ao entendimento básico das pessoas, como elas usavam isto...e claro, foi surpreendente para muitas pessoas a maneira pela qual eu defino o tempo de exposição como um elemento substancial que pode ser carregado de conteúdo.