Paulo Tavares: Você disse, no começo de nossa conversa, que o tempo não era um foco importante do seu trabalho, mas sim os acontecimentos com os objetos, as coisas que você gostaria de fotografar. Mas para mim, especialmente as fotografias urbanas, e particularmente as fotografias de Potsdamer Platz, estão relacionadas com o tempo de uma maneira muito forte, não acha?
Michael Wesely: Sim, obviamente. Provavelmente você me entendeu errado. Meu interesse era definitivamente o tempo. Eu estava investigando este aspecto da fotografia que ninguém achava que tinha algum sentido. O tempo é um elemento muito importante na fotografia que ninguém estava questionando. Deste ponto de vista analítico eu realmente estava indo de encontro com a história da fotografia quando achei este “vazio”. Eu comecei basicamente com a “duração do momento” e o resto foi apenas curiosidade. É simples, quando você escolhe cinco minutos, você se pergunta: “está certo, cinco minutos, mas quando é o fim? Poderia ser uma milhão de minutos?” Assim, eu fui estendendo o tempo de exposição. Eu usava cinco minutos, cinqüenta, quinhentos etc. e assim foi.
PT: Vamos falar das fotografias urbanas feitas com longas exposições. Num primeiro momento, o que me chama atenção nestas imagens é que o objeto de sua câmera, a arquitetura, significa uma substância, uma evidência do passado, a materialização de um outro tempo. Mas se o foco principal é o “tempo” ele mesmo, a presença do edifício não é mais o objeto de sua câmera, mas os processos de formação do edifício.
MW: Claro. Para mim é fascinante de ver o tempo enquanto o edifício está virando realidade. Transformando-se de um plano em realidade. Mesmo nas fotografias você pode ver os edifícios parcialmente materializados...isso era algo que a fotografia não podia fazer. Era possível fotografar algo que estava lá, ou não estava lá, mas aqui as fotos são basicamente...
PT: Um processo, a mudança?
MW: Sim, mas também são eternas. Existem alguns aspectos que fazem elas parecerem eternas. Há um problema, obviamente: não vemos as pessoas nas ruas, mas vemos o sol e as linhas que o sol faz no céu e isso é uma perspectiva eterna de nossa civilização. E isso faz as fotos parecerem muito estranhas...
PT: Algo como uma atmosfera fantasmagórica...
MW: Tudo está lá, mas nem tudo é visível. Todos os trabalhadores que trabalharam na construção estão na imagem, mas eles apenas não são visíveis.
PT: A cidade grande é sempre presente em seu trabalho. Qual seu interesse na condição urbana contemporânea? O que lhe interessava nas fotos das gigantes transformações urbanas que ocorreram em Berlim?