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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
O arquiteto Paulo Tavares entrevista o fotógrafo alemão Michael Wesely, principalmente focado nas imagens feitas por ocasião da reconstrução urbana da Potsdamer Platz, em Berlim

english
Architect Paulo Tavares interviews the German photographer Michael Wesely, mainly focused on images taken during the urban reconstrution of Potsdamer Platz in Berlin

español
El arquitecto Paulo Tavares entrevista al fotógrafo alemán Michael Wesely, principalmente focalizando en las imágenes hechas por ocasión de la reconstrucción urbana de la Potsdamer Platz, en Berlín

how to quote

TAVARES, Paulo. Michael Wesely. Entrevista, São Paulo, ano 07, n. 025.01, Vitruvius, jan. 2006 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/07.025/3308>.


Setor Bancário Sul, Brasília
Foto Michael Wesely

Paulo Tavares: Você disse, no começo de nossa conversa, que o tempo não era um foco importante do seu trabalho, mas sim os acontecimentos com os objetos, as coisas que você gostaria de fotografar. Mas para mim, especialmente as fotografias urbanas, e particularmente as fotografias de Potsdamer Platz, estão relacionadas com o tempo de uma maneira muito forte, não acha?

Michael Wesely: Sim, obviamente. Provavelmente você me entendeu errado. Meu interesse era definitivamente o tempo. Eu estava investigando este aspecto da fotografia que ninguém achava que tinha algum sentido. O tempo é um elemento muito importante na fotografia que ninguém estava questionando. Deste ponto de vista analítico eu realmente estava indo de encontro com a história da fotografia quando achei este “vazio”. Eu comecei basicamente com a “duração do momento” e o resto foi apenas curiosidade. É simples, quando você escolhe cinco minutos, você se pergunta: “está certo, cinco minutos, mas quando é o fim? Poderia ser uma milhão de minutos?” Assim, eu fui estendendo o tempo de exposição. Eu usava cinco minutos, cinqüenta, quinhentos etc. e assim foi.

PT: Vamos falar das fotografias urbanas feitas com longas exposições. Num primeiro momento, o que me chama atenção nestas imagens é que o objeto de sua câmera, a arquitetura, significa uma substância, uma evidência do passado, a materialização de um outro tempo. Mas se o foco principal é o “tempo” ele mesmo, a presença do edifício não é mais o objeto de sua câmera, mas os processos de formação do edifício.

MW: Claro. Para mim é fascinante de ver o tempo enquanto o edifício está virando realidade. Transformando-se de um plano em realidade. Mesmo nas fotografias você pode ver os edifícios parcialmente materializados...isso era algo que a fotografia não podia fazer. Era possível fotografar algo que estava lá, ou não estava lá, mas aqui as fotos são basicamente...

PT: Um processo, a mudança?

MW: Sim, mas também são eternas. Existem alguns aspectos que fazem elas parecerem eternas. Há um problema, obviamente: não vemos as pessoas nas ruas, mas vemos o sol e as linhas que o sol faz no céu e isso é uma perspectiva eterna de nossa civilização. E isso faz as fotos parecerem muito estranhas...

PT: Algo como uma atmosfera fantasmagórica...

MW: Tudo está lá, mas nem tudo é visível. Todos os trabalhadores que trabalharam na construção estão na imagem, mas eles apenas não são visíveis.

PT: A cidade grande é sempre presente em seu trabalho. Qual seu interesse na condição urbana contemporânea? O que lhe interessava nas fotos das gigantes transformações urbanas que ocorreram em Berlim?

Madri, 1991
Foto Michael Wesely

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