Fábio: E no que se refere ao contato dele com o Rio, a formação…
Maria Elisa: Ele morou no Rio, voltou para a casa onde tinha morado até os oito anos de idade, ficou absolutamente apaixonado pelo Rio de Janeiro e é a tal coisa, ele reencontrou aquela velha raiz, tendo já na mão adquirido o ensino básico, ele não fez pós-graduação na Europa, ele fez pré-graduação; e depois, a qualidade do ensino era outra… há cem anos era o que a gente hoje acha impossível conseguir aqui... primeiro mundo não é primeiro mundo à toa.
Fábio: Porque quando você fala que ele foi à Europa, ele já foi como arquiteto, não é, ele fez então um mergulho no do, então…
Maria Elisa: Ele ganhou um prêmio de viagem e ganhou um dinheiro na loteria e foi passear na Europa; ele resolveu viajar porque tinha um problema pessoal, namorava a minha mãe e a prima da minha mãe, todas as duas se chamavam Julieta e, ao mesmo tempo; ele estava sem saber como resolver esta parada, então quando publica as cartas de 1926 no seu livro ele diz, ‘…por razões sentimentais insolúveis’ ... Ele estava querendo era ver as coisas, foi visitar a casa onde nasceu, os lugares onde morou… só que não foi à Inglaterra nessa época… foi à França, viajou pela Itália toda, ele tinha conhecimento profundo da história da arte e para ele era um prazer ver aquelas coisas todas, sabe, não era uma coisa turística só, era um pouco mais, mas sem nenhuma curiosidade pela coisa moderna…
Fábio: E ainda sobre o concurso, como você imagina que ele tomou conhecimento do concurso, foi por meio de carta-convite, jornal… tem algum documento a respeito?
Maria Elisa: Não tem nada de Monlevade aqui, por enquanto, porque tem uma montanha de papel e como as coisas aparecem surpreendentemente é possível que ainda apareça, mas eu não tenho idéia… tanto que, como eu te disse, eu não sabia que foi um concurso, quer dizer, Monlevade para ele era uma coisa tão dele que os outros sumiram na memória, ele descartou… inclusive isso é importante para mim, ter essa informação a respeito dos outros, porque aí entra esse dado de querer demonstrar… deve ter doído, sabe, faz mais sentido, não foi um convite…, está aí uma coisa que eu poderia ter perguntado a ele, porque eu achava um pouco estranho, se chamaram para fazer um projeto qual o motivo de terem recusado. Isso era uma coisa que ficava assim, bom, vai ver que não gostaram do jeito das coisas, porque queriam uma coisa diferente ou desistiram de fazer, mas eu não perguntei, lamento…
Fábio: …Mas foi feito e o que foi feito foi o que ganhou, o Lincoln Continentino… pelo menos parcialmente.
Maria Elisa: Está aí, agora você me disse uma coisa, deve ter sido tão difícil… deve ter doído tanto que ele zerou, deletou o resto, não é!?
Fábio: Ele não faz referência aos outros concorrentes, não é!?
Maria Elisa: Não, e depois em 1934, você pensando bem, ele tinha acabado de sair da escola, não tinha o Ministério da Educação, não tinha nada disso, quer dizer, era a época da recusa, das pessoas não quererem fazer projeto; a gente tem dificuldade de imaginar assim, como batia nas pessoas daquela época essa coisa despojada, devia ser estranho, deveria soar uma coisa muito esquisita, um pouco longe demais, do hábito das pessoas…