Giuliano Pelaio: Como você vê a arquitetura espanhola atual? E o que tem a dizer com respeito à inserção da escola valenciana no panorama europeu?
Luís de Garrido: Estamos passando por um mau momento. Penso que a arquitetura espanhola teve o seu auge muito forte na década de 90. Tivemos aqui na Espanha alguns arquitetos muito bons e muito reconhecidos no panorama internacional. Agora estes arquitetos que foram bons, hoje vivem de rendas, pois se tornaram obsoletos, se converteram em velhos dinossauros e estão impedindo que jovens arquitetos recém-formados prosperem.
Os arquitetos não souberam se renovar, não souberam se adaptar às novas exigências sociais e na realidade representam os maiores obstáculos para que a arquitetura na Espanha evolua. (Com respeito à arquitetura sustentável é muito engraçado o que dizem os velhos dinossauros: a arquitetura que fizemos sempre foi sustentável!...hehe. Os velhos dinossauros não têm limite e falam muita bobagem!).
Além disso, nesse momento os arquitetos espanhóis não estão nada bem. Não existe trabalho e temos que nos movimentar para trabalhar fora da Espanha.
GP: A teoria do modelo das pirâmides invertidas é muito positiva já que valoriza o papel do arquiteto e sua formação para alcançar apenas com o projeto arquitetônico um alto grau de sustentabilidade sem fazer uso dos aditivos tecnológicos. Essa teoria é sua? Explique-nos.
LG: 90% da responsabilidade da sustentabilidade na arquitetura é inteiramente associada ao projeto arquitetônico e às decisões do arquiteto. O restante são materiais especiais, tecnologias e novas soluções construtivas. Esses 10% são a única parte que pode encarecer. (1)
GP: Como se encontra a legislação espanhola de construção com respeito a temas centrais como a eficiência energética, redução de emissões e conforto ambiental? Existe fiscalização, ou ela é ainda auto-aplicável?
LG: O Código Técnico na Espanha (CTE) não tem nada a ver com a arquitetura sustentável. Os políticos foram os responsáveis pela divulgação dessa falácia.
GP: Como você analisa a formação dos seus alunos ao entrar no curso? Eles carregam o conhecimento das estratégias bioclimáticas para o desenvolvimento de bons projetos arquitetônicos?
LG: Com certeza. Apenas escolho 15 estudantes por ano, e os formo com dedicação pessoal, da melhor forma que posso. Meus alunos são meus amigos e minha família a cada ano. Cuido deles e dou o melhor de mim.
notas
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Modelo das Pirâmides Invertidas, vide artigo "As Naturezas Artificiais de Garrido" na revista Drops.