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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Giuliano Pelaio entrevista o arquiteto Luís de Garrido, enfocando os conceitos de arquitetura sustentável a partir de um ponto de vista crítico sobre a manipulação que o mercado exerce sobre os certificados e standards

english
Giuliano Pelaio's interview is focused on the concepts created and developed by Luís de Garrido concerning sustainability in architecture with a critical point of view, pointing to the market manipulation over certifications and standards

español
Giuliano Pelaio entrevista a Luís de Garrido sobre los conceptos creados y desarrollados por él para entender la sustentabilidad en la arquitectura con una mirada crítica, incluso a través del desmontaje de las usuales manipulaciones del mercado

how to quote

AUGUSTO PELAIO, Giuliano. Luís de Garrido. Entrevista, São Paulo, ano 12, n. 046.01, Vitruvius, mar. 2011 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/12.046/3793/pt_BR>.


Rascacielos Solaris. Ken Yeang. 2006

Giuliano Pelaio: Na Espanha, há excelentes modelos de desenvolvimento de cidades, como a comunidade autônoma da Catalunha, Andaluzia, Castilla la Mancha etc. Que paralelo poderia ser feito com relação ao modelo caótico de desenvolvimento da cidade de São Paulo e com a cidade planejada de Brasília?

Luís de Garrido: Brasília não tem solução. Sua criação foi equivocada, resultando em uma cidade fantasma repleta de esculturas gigantescas, onde as pessoas e suas necessidades foram esquecidas. Para mim Brasília exemplifica o maior equívoco da arquitetura e da disposição urbana do nosso tempo.

Ao contrário, São Paulo pode ser uma cidade caótica, mas já é compacta, e a metade do trabalho já está feito. A solução da cidade de São Paulo passa pela estruturação da megalópole em distritos independentes de em média 500.000 habitantes separados entre si por zonas verdes, e com rápidos e excluir sistemas de comunicação.

Cada distrito deveria possuir o maior grau de independência e autossuficiência, evitando a necessidade de deslocamento dos seus ocupantes. Do mesmo modo, quando esta necessidade surgir, os deslocamentos de um distrito com o outro deve ser o mais rápido possível.

Além disso, cada distrito deveria estar regido de forma bastante independente dos demais, de tal modo que se estimulasse a participação dos cidadãos, de forma que o seu dinheiro fosse designado a melhorar as coisas próximas do seu cotidiano.

Desta forma, a metrópole caótica de São Paulo passaria a ser uma federação ecológica de municípios compactos e autossuficientes.

Com certeza isso evitaria muitos dos problemas atuais de São Paulo, incluindo os absurdos atrasos no tráfego que roubam 10% da vida dos cidadãos paulistas, tirando-lhes a felicidade, a vida e competitividade empresarial.

GP: Muitas são as cidades que deveriam passar por um processo de reestruturação territorial, organizacional e compactação do seu tecido urbano. Como melhorar as cidades já consolidadas, reciclando-as de forma sustentável?

LG: As cidades devem iniciar urgentemente um processo de reciclagem urbana, que inclua vários parâmetros, que devem ser seguidos paralelamente por um processo de compactação urbana.

Sem dúvida, nos países europeus essa tarefa é muito mais simples do que dos países americanos, cujas cidades são dispersas, pensadas para um grande deslocamento, e com infraestruturas lamentáveis.

A primeira coisa que deveria ser feita é estimular que as pessoas desejassem viver de forma compacta, com o intuito de diminiur os gastos por superfície e assim fazer frente aos custos necessários para implementar infraestruturas e ações sustentáveis encaminhadas a diminuir o consumo energético, otimizar os recursos e diminuir as emissões e os resíduos.

Por isso os arquitetos devem propor novas formas de tipologias de edifícios que aumentem a qualidade de vida dos núcleos multifamiliares e estimulem o desejo das pessoas de não viver em residências unifamiliares isoladas antiecológicas e distantes dos núcleos urbanos.

Masdar City, Foster + Partners, 2009-2010
www.masdar.ae

GP: Quais seriam as principais tarefas da arquitetura moderna para melhorar a vida das pessoas hoje em dia, para que se atinja uma mudança nas crises financeiras, alterações climáticas e a escassez dos recursos naturais?

LG: A crise financeira foi consequência de vários experimentos econômicos que colocaram à prova os limites no nosso atual sistema pós-capitalista. Isso quer dizer, simplesmente, que devem ser revistos os pilares que fundamentam esse sistema capitalista e que este deva ser substituído por um sistema capitalista sustentável, mais próximo dos fundamentos estabelecidos por Adam Smith para o sistema Proto-Capitalista primitivo.

Do mesmo modo, uma arquitetura que se formou neste sistema capitalista caduco deve ser recusada com toda a urgência. Ainda mais quando a arquitetura se materializa com um importante atraso com respeito à realidade social e econômica que a gerou.

Em suma, o mais importante é que a sociedade e os jovens profissionais da arquitetura recusem radicalmente a arquitetura que habitualmente se produz. Ou seja, que ninguém a compre e que também não a produzam. Mas isso é complicado, já que requer estabelecer umas novas pautas de atuação e uma nova escala de valores sociais, e esta é precisamente a prioridade, ou seja, a solução está nos jovens arquitetos que agora estão estudando nas diferentes escolas de arquitetura do mundo e que estão completamente insatisfeitos com o que lhe estão ensinando.

Estes profissionais devem fazer uma nova arquitetura que esteja em equilíbrio com a natureza e que garanta a felicidade das pessoas.

Eu comentei o que deve ser feito para realizar uma verdadeira arquitetura sustentável e agora gostaria de colocar o meu ponto de vista sobre as características que deve ter a arquitetura para garantir a felicidade das pessoas.

Com certeza, cada pessoa tem um conceito diferente de felicidade e portanto devem se oferecidas respostas diferentes com o fim de melhorar sua vida através da arquitetura.

No entanto, eu acredito que no mínimo, deveriam ser levadas algumas coisas em consideração:

Iluminação natural, transpirabilidade (ventilação natural contínua), simplicidade tecnológica, alto nível de “naturalidade” nos materiais, projeto arquitetônico simples e não monótono, cores adequadas, sensação de segurança e intimidade, variação térmica sazonal, ausência de elementos patológicos e manutenção mínima.

GP: Para finalizar, qual é a sua visão com respeito à arquitetura do futuro? O que deveria ser entendido sobre como será essa arquitetura?

LG: Infelizmente, muito parecida com a atual.

O que podemos fazer é avançar no tempo, identificar pautas evolutivas, intuir saltos para evolução, pressentir obstáculos inesperados e aplicar estas leis prospectivas para criar possíveis cenários futuristas.

Deveríamos observar os avanços que a arquitetura sofreu nos últimos 50 anos (muito pouco), identificar caminhos para sua evolução contínua (basicamente uma evolução formal de uma corrente racionalista), identificar saltos evolutivos (excessiva atenção para a “forma”, em relação a outros aspectos que ficam em segundo plano ou simplesmente esquecidos), identificar saltos inesperados (novo sistemas de valores humanos, crise econômica mundial, necessidades do meio ambiente).

Segundo essas observações, me atrevo a dizer o seguinte:

A arquitetura será completamente diferente na Europa (cuja população vai envelhecer, a sua riqueza vai parar de crescer e será menos competitiva) que nos países emergentes (Índia, China, Brasil, Peru, Colômbia, Caribe, Abu Dhabi, Malásia,…) e onde a arquitetura encontrará um extraordinário terreno fértil para evoluir. Nos Estados Unidos a arquitetura vai se manter mais ou menos como está atualmente e não creio que haverá mudanças consideráveis (simplesmente aumentarão o uso da energia nuclear para que todos continuem mais ou menos igual).

A Europa vai se concentrar na reciclagem da cidade e do seu equipamento (transporte público sustentável, aumento dos espaços verdes, ciclovias, eliminação do asfalto etc.), assim como na reabilitação das casas e edifícios já existentes, adaptando-os às novas necessidades sociais. A população se tornará mais pobre e envelhecida, e os arquitetos dedicarão os seus esforços a atividades mais sociais que construtivas. Os edifícios se transformarão de forma contínua e serão mais flexíveis, multimidiáticos e ecológicos.

Será criado uma cultura de bem-estar, sem muitas ambições, e como resultado, a Europa será o berço das melhores ideias, mas muitas delas deverão ser aplicadas nos países emergentes.

Os países emergentes vão se compactar pouco a pouco. A arquitetura terá maior eficiência energética e será mais industrializada, ou seja, terá mais componentes realizados em fábricas. Além disso, incorporará sistemas de reciclagem de água e sistemas de tratamento de resíduos, porque os impostos da água e do lixo serão substancialmente maiores do que os atuais. Por outro lado, as casas serão muito quentes porque os sistemas de ar condicionado serão muito caros e a energia elétrica também.

Com certeza, os sistemas de telecomunicações e multimídia que se incorporarão serão muito avançados e econômicos. Do mesmo modo, os edifícios contarão com uma grande quantidade de dispositivos de segurança.

Portanto, não se deve esperar grandes atuações, nem grandes mudanças formais. De certo modo isso seria um bom sinal. O que deve ser feito nos próximos 50 anos, no mínimo, é reordenar o mal que se fez até agora. Vamos assistir ao maior ponto de inflexão da história. O que acontecer depois de 2050 já fará parte do grau de maturidade conseguida pela humanidade.

Masdar City, Foster + Partners, 2009-2010
www.masdar.ae

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046.01
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046.02

Entrevista Manfred Schiedhelm

Jordi Viñals Terres and Xavier Bosch Canals

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