Gabriela Celani e Maycon Sedrez:Você poderia falar um pouco sobre o que você acha da formação do arquiteto brasileiro? Você acha que o arquiteto brasileiro está preparado para, por exemplo, como você, ir trabalhar com o Ken Yeang a Zaha Hadid? Está preparado para enfrentar arquitetura no mundo?
Anne Save de Beaurecueil: De uma maneira sim, porque aqui é tudo muito prático. Eles podem entrar em um escritório e ser úteis; parece que todos os alunos fazem estágio. Acho que este é um ponto positivo. Por outro lado, como eles têm oito matérias e trabalham todos os dias, eles têm menos foco na pesquisa, menos foco no projeto Simplesmente porque eles têm menos tempo. Não é que eles não queiram, eles têm energia, são inteligentes, são animados para aprender a fazer, mas parece que não têm o tempo. Acho que é o luxo da A.A.: ninguém trabalha. Em Nova Iorque, também, ninguém trabalha durante o ano acadêmico. Eles trabalham apenas durante o verão, durante as férias, mas ninguém trabalha durante o ano. Além disso, eles fazem apenas quatro outras matérias e se concentram mais no projeto, são mais produtivos, o que no fim eu acho que ajuda muito para criar arquitetos que vão fazer arquitetura original e criativa em cinco anos. Quando estudei na Cal Poly, as pessoas me diziam: “você vai achar um trabalho muito facilmente, pois está tendo uma formação muito técnica”. Mas depois grande parte dos arquitetos que saem da Cal Poly não abre seu próprio escritório; no início, a maioria trabalha como cad monkeys e só depois de uns cinco anos, alguns começam a fazer seu próprio trabalho, mas a maioria não faz um trabalho muito inovador porque não havia este tipo de formação durante a escola. É importante de ter uma boa educação não só na parte técnica, mas em projeto, em pesquisa, ter um tempo para realmente desenvolver a sua própria pesquisa em projeto.
GC e MS: Ainda com relação à formação do arquiteto no Brasil, você acha que a falta de formação na maioria das escolas na área de fabricação digital, arquitetura paramétrica, é um problema, uma dificuldade para depois ir para o mercado exterior?
ASB: Sim, mesmo aqui, porque a construção é tão atrasada em comparação às outras indústrias brasileiras que são bem mais avançadas. Se os arquitetos não estiverem usando técnicas novas eles não vão pressionar a indústria de construção para mudar. Nós estamos fazendo um projeto agora e todo construtor que encontramos está tão fechado às novas tecnologias. Acabamos buscando pessoas que produzem barcos, pois eles são os únicos abertos, que entendem a nossa língua. Eles usam Rhino, eles fazem objetos paramétricos, usam superfícies curvas. Então acho que, para realmente avançar na construção, é preciso começar com os alunos, pois eles irão pressionar a indústria, irão inspirar a indústria. Isso ocorre em todo lugar. Na Inglaterra há muitas empresas que realmente podem fazer coisas mais complicadas, mas isso também começou com a demanda dos arquitetos, e hoje outros escritórios podem usar essas tecnologias mais avançadas. É muito importante incorporar essas novas tecnologias à cultura dos arquitetos; não pensar isso apenas como uma novidade, pois isso pode economizar muito tempo em termos de projeto, e dinheiro em um escritório. É uma maneira de avançar e de fazer coisas mais inovadoras, mais interessantes, não apenas repetir coisas que estão acontecendo lá fora. É preciso fazer essa fusão da arquitetura, da cultura brasileira com a nova tecnologia que vem de fora.