Francesco Perrotta-Bosch: Em que faculdade vocês se formaram? Quando? Que fatos consideram relevantes no período de formação: intercâmbios, pesquisas acadêmicas, concursos para estudantes, estágios?
Camila Thiesen: Formei-me não faz muito tempo, foi no segundo semestre do ano de 2011, pelo Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). Acho que estagiar em bons escritórios, fazer intercâmbio e participar de workshops nacionais e internacionais tiveram um grande peso, aliado ao ensino da faculdade.
Fiz estágios ao longo de toda a faculdade e sempre prezei por escritórios que eu acreditava ter um portfólio com trabalhos de boa qualidade arquitetônica. Estagiei em cinco escritórios, cada um com um objetivo diferente de aprendizado. Fui de interiores ao restauro. A maioria desses escritórios participava de concurso também, o que me fez “pegar gosto pela coisa”. Depois de formada, antes de abrir o meu próprio escritório, trabalhei em um sexto escritório.
Os workshops serviram para ter uma vivência intensa, sempre com a duração de uma a duas semanas, em Porto Alegre mesmo ou em outra cidade, como São Paulo. Neles se tem um tema para desenvolver um projeto com participantes de diferentes partes do Brasil e do mundo. Geralmente o assunto do workshop não é o abordado nas cadeiras da faculdade e as pessoas que tu conheces não são as mesmas com quem tu convives no período de aulas. Então, fora a tensão do curto período para desenvolver muito trabalho, são só ganhos.
Durante o período da faculdade sempre tive vontade de repetir a experiência de fazer intercâmbio, que tive na época do colégio. Acabei deixando para o final do curso. Então, fiz uma espécie de trabalho de conclusão “sanduíche” na Faculdade de Arquitetura de Montevidéu (Udelar). Ou seja, assessorava meu projeto de conclusão na faculdade de Porto Alegre e no Uruguai. A experiência foi muito válida. As duas faculdades têm perfis diferentes e demonstravam visões distintas sobre meu projeto. Aprender a lidar com essas diferenças foi difícil, mas fez meu trabalho ganhar força no final do semestre. O trabalho que desenvolvi no período de diplomação também era de reuso de um prédio existente e a escolha recaiu em transformá-lo na Biblioteca Estadual do Estado do Rio Grande do Sul - o que, de certa forma, me ajudou um pouco no concurso da Nova Biblioteca de Direito da USP, pois envolvia o mesmo tema e programa, apesar de estarem em situações distintas.
Diogo Erdmann Valls: Graduei-me em Engenharia Civil em 2007 e, em Arquitetura e Urbanismo, em 2012.
Cássio Sauer: Sou arquiteto formado pela UFRGS/2009, com intercâmbio na Faculdade de Arquitetura do Porto/FAUP 2007-08, e pós-graduação em Geografia, Cidade e Arquitetura pela Escola da Cidade/2012. Durante a faculdade estagiei com os arquitetos Paulo Almeida e Eliane Sommer, em Porto Alegre.
Elisa Toschi Martins: Sou arquiteta pela UFRGS/2009, com intercâmbio na Faculdade de Arquitetura do Porto/FAUP 2007-08. Fiz pós-graduação em Gerenciamento de Projetos pela FGV/2012. Atualmente faço mestrado em arquitetura na UFRGS.
Durante o período de faculdade, estagiei na construção da nova sede da Fundação Iberê Camargo, com a supervisão do Eng. José Luiz Canal e do Museu da Língua Portuguesa, com Pedro Mendes da Rocha. Tendo colaborado nos escritórios de Álvaro Siza, em Portugal, e Studio Paralelo, em Porto Alegre. Em 2010, recebi o prêmio Ópera Prima.
Angélica Magrini Rigo: Fiz o curso de Arquitetura e Urbanismo na UFRGS, entre 2004 e 2011. Nesse meio tempo, realizei intercâmbios na Universidad de la Republica de Montevidéu e no Instituto Superior Técnico de Lisboa; ambos foram essenciais para a minha formação. Outras atividades com as quais aprendi muito foram os estágios em escritórios de arquitetura e de urbanismo e um período de pesquisa no laboratório de estudos urbanos da faculdade onde me formei.
Lucas Valli: Cursei Arquitetura e Urbanismo na UniRitter de Porto Alegre, entre 2005 e 2011, e, no primeiro semestre de 2009, no Uruguai. Durante a formação procurei entender realmente a profissão, buscando estágios em todas as áreas possíveis. Comecei em uma empresa de engenharia, no final do primeiro semestre da faculdade, depois trabalhei em um escritório de arquitetura efêmera, em seguida em um escritório que desenvolvia projetos para construtoras e também trabalhavam com interiores e, por último, no escritório3C Arquitetura e Urbanismo, no qual pude participar de projetos de diversos tipos e escalas, como plano diretores, parques, reformas, projetos de restauro, edificações, etc. Em paralelo, durante toda a faculdade, trabalhava com projetos de visualização arquitetônica.
Em 2009 fiz um intercâmbio com a Universidad de la Republica (Udelar), no Uruguai. Esse semestre foi, sem dúvida, o período de maior aprendizado durante o meu processo de formação. Lá, em uma realidade completamente diferente, há uma dedicação total por parte dos arquitetos e uma qualidade inquestionável na produção arquitetônica.
Participei de alguns cursos, concursos e workshops como estudante, mas acredito que, além da faculdade, os estágios - que me orientar na escolha do melhor caminho - e uma experiência de intercâmbio foram fatores decisivos na minha formação como arquiteto.
Jaqueline Lessa: Sou graduanda da FAU - PUCRS, fiz intercâmbio na Faculdade de Arquitetura de Lisboa - FAUTL no período 2010.2011. Acredito que as viagens de estudo, o intercâmbio entre estudantes e profissionais de realidades diversas e a colaboração em escritórios com trabalhos de boa qualidade arquitetônica foram determinantes para a complementação da formação acadêmica.
Francesco Perrotta-Bosch: Que professores ou mesmo arquitetos de fora do meio acadêmico foram determinantes nesse período?
Camila Thiesen: Duas pessoas em especial marcam minha trajetória acadêmica.
Uma delas é a arquiteta Helena Karpouzas. Minha professora em algumas cadeiras de projeto no UniRitter, minha orientadora de TFG e minha ex-chefe.
A outra pessoa são na verdade três: Luciano Andrades, Silvio Lagranha e Rochelle Castro, do escritório Studio Paralelo, onde estagiei.
Com todos eles reafirmei o gosto pela boa arquitetura, saber enxergar oportunidades e encarar as adversidades que aparecem na nossa profissão. Eles foram, praticamente, propulsores do meu potencial. Viam que podia ir além. Desafiavam-me a ser melhor e a correr atrás dos meus objetivos.
Não quero ser injusta com os demais arquitetos que estiveram por perto ao longo da minha formação, ao apontar esses nomes, mas são as pessoas a quem recorro até hoje, já profissional, como se fossem uma espécie de gurus. E eu, a pupila deles.
Cássio Sauer: O intercâmbio em Portugal, os estudo em São Paulo, as constantes viagens de estudos e a colaboração em escritórios nacionais e internacionais foram determinantes para o desenvolvimento de projetos próprios.
Angélica Magrini Rigo: Meu aprendizado foi influenciado por um conjunto de profissionais, arquitetos ou não. Não há um que se sobressaia a todos.
Lucas Valli: Alguns professores tiveram grande importância nesse período, como o ex-professor da Uniritter Paulo Cesa Filho, pela sua entrega à arquitetura; Daniel Pitta Fischmann, referência para mim durante toda a formação; Leonardo Marques Hortencio e Tiago Holzmann da Silva, professores e amigos com quem também tive o privilégio de trabalhar e Maria Isabel Milanez, por ser a minha mentora e motivadora enquanto estudei fora. No intercâmbio poderia citar dois grandes professores titulares do TallerDanza (ateliê de projeto da UDELAR): Andrés Gobba e Sergio Barreto.
Francesco Perrotta-Bosch: Como se deu o processo de transição entre a universidade e a prática profissional, com a abertura do próprio escritório?
Camila Thiesen: Uma vez formada, saí em busca de escritórios onde pudesse trabalhar. Se não conseguisse a vaga na minha cidade, teria ido fazer algum mestrado fora do Brasil ou ido morar em São Paulo, em busca de oportunidades nos escritórios de lá.
Fui contratada no escritório Arquitetura Nacional, e depois de três meses, recebi um convite, de um colega de faculdade, para abrirmos um escritório próprio. Assim, surgiu o Metropolitano Arquitetos em 2012. O escritório foi montado na mesma casa onde o Studio Paralelo tem seu escritório. A convivência diária com outros arquitetos no mesmo local é muito positiva. Foi daí, também, que surgiu a nossa equipe do concurso para a nova Biblioteca de Direito da USP. Das amizades de dentro dessa casa, chamada Coletivo. A maioria dos integrantes da equipe teve passagem pelo Studio Paralelo (eu, Elisa, Diogo e Jaqueline).
Diogo Erdmann Valls: Atuei como colaborador e engenheiro estrutural na Vanguarda Sistemas Estruturais Abertos 2003-2010. No ano seguinte, atuei como colaborador no Studio Paralelo, entre 2010 e 2012. Simultaneamente, desenvolvo projetos estruturais para diversos escritórios gaúchos. Paralelo a estas atividades tenho interesse na área de tecnologia da informação. Em 2012, desenvolvi o Primaverah, uma plataforma social premiada pelo Centro de Inovação Tecnológica da PUCRS, que consiste em uma ferramenta web de comunicação entre estudantes de arquitetura. A transição se deu de forma natural, com a recente abertura do studioLAM.
Cássio Sauer: Em 2009, após nos formarmos, eu e a Elisa optamos por criar um escritório. A vontade de ampliar o conhecimento profissional nos motivou a trabalharmos também em outros escritórios e desde lá O arquitetura pela rua tem funcionado concomitantemente com períodos de práticas profissionais em São Paulo e no Chile. Eu colaborei com o Elemental, no Chile, em 2011 e, no ano seguinte, com a Triptyque, em São Paulo. Sempre mantendo trabalhos em paralelo em Porto Alegre.
Elisa Toschi Martins: Neste período, colaborei com o Bernardes & Jacobsen, entre 2010 e 2012, como parceiros locais do projeto de Herzog & de Meuron para o Complexo Cultural Luz.
As experiências nestes escritórios, somadas às experiências de tempos de faculdade têm sido fundamentais para o acréscimo de qualidade ao trabalho próprio. A participação em concursos tem sido outro ponto importante para o desenvolvimento do escritório, tendo sido premiada em 2010, finalista no Concurso YouthandWomenLeadership Center - RJ/ Architecture for Humanity.
Angélica Magrini Rigo: Depois de formada, me afastei um tempo para trabalhar num voluntariado, mas, em seguida, comecei a trabalhar em escritórios de urbanismo e arquitetura.
Lucas Valli: Não foi fácil optar por abrir um escritório logo após a formatura, mas o processo foi natural, uma vez que este era o nosso sonho. Decidimos nos arriscar, mesmo sabendo o quão difícil seria no início.
Jaqueline Lessa: O Studio LAM é uma prática recente, vem acontecendo simultaneamente ao período de graduação e colaboração no Studio Paralelo.