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interview ISSN 2175-6708

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Haruyoshi Ono, sócio e interlocutor de Roberto Burle Marx por quase três décadas, dá um amplo depoimento sobre sua atuação como paisagista ao lado do mestre e de sua trajetória autônoma à frente do escritório que ainda leva o nome do fundador.

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BARBOSA, Antônio Agenor; RODRIGUEZ, Stella. Entrevista com o arquiteto paisagista Haruyoshi Ono. Entrevista, São Paulo, ano 15, n. 057.01, Vitruvius, jan. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/15.057/5010>.


Sítio Santo Antonio da Bica, atual Sítio Roberto Burle Marx
Foto Halley Pacheco de Oliveira [Wikimedia Commons]

AAB / SR: Após a morte de Burle Marx a empresa sofreu alguma modificação estrutural ou se manteve dentro dos mesmos padrões? Por exemplo, número de funcionários, quantidade de projetos etc.

HO: Após a morte de Roberto tivemos que fazer um enxugamento em tudo, porque a estrutura passou a ser outra. Já no final da vida, Burle Marx, ele mesmo já se dedicava mais à pintura, mais à parte artística, se bem que ele considerava o paisagismo uma manifestação de arte. Neste período ele já deixava essa parte no escritório como meu encargo, assim como a gerência, mas isto não deu muito certo, porque eu sou um desastre nisso (risos), e então tive que chamar outra pessoa para nos ajudar a gerenciar a empresa. E esta pessoa – a arquiteta Maria de Fátima Gomes de Sousa, hoje, nossa sócia – foi quem levantou o escritório novamente, pois tínhamos nos endividado bastante por conta da doença do Burle Marx e outras razões que não vêm ao caso relatar agora.

Ela ajudou muito saneando a firma, principalmente na parte empresarial. Ela tinha sido estagiária na época de Roberto, trabalhando como desenhista, e depois colaborou como arquiteta contratada. Mais tarde participou da expedição à Amazônia, nos anos 1970, quando grande parte da nossa equipe foi para a região, voltando mais tarde a trabalhar nas coleções do Sítio Santo Antônio da Bica, que era a residência de Burle Marx, como funcionária do Iphan, e lá permanecendo alguns anos após a morte dele como vice-diretora. Depois ela foi trabalhar no Jardim Botânico, como assessora da presidência, quando nós a chamamos novamente. Hoje ela é sócia da empresa e nossa consultora.

Severo Gomes, Rino Levi, Burle Marx e Procópio Ferreira de Camargo, excursão a Serra de Parati MG, 1952
Foto de autor desconhecido [livro “Rino Levi – arquitetura e cidade”]

AAB / SR: Quem são os principais profissionais e colaboradores que hoje atuam na empresa?

HO: Nossa equipe no setor de projetos se compõe além de mim, de três arquitetos associados que são a Isabela Ono (principal), Gustavo Leivas e Júlio Ono, a paisagista colaboradora Patricia Menezes e eventualmente um ou dois estagiários. O Thiago que está ali é um deles. Gustavo foi nosso estagiário há algum tempo atrás, e quando se formou, constituiu uma empresa, juntamente com outros arquitetos. Quando surgiu uma oportunidade, o chamamos para nossa equipe. Júlio também foi nosso estagiário.

No setor administrativo, a arquiteta Fátima Gomes, também sócia, exerce a função de Consultora Geral da empresa. Existem ainda os setores financeiros e de recursos humanos, além da execução e manutenção, com diversos funcionários (jardineiros) e um engenheiro agrônomo. Atualmente estamos desativando paulatinamente o setor de execuções e manutenções, devido à grande dificuldade de manter funcionários devido à escassez de mão-de-obra qualificada. Por outro lado, hoje observamos uma espécie de insatisfação generalizada por parte dos jardineiros por sua profissão, e como agravante, sofremos a concorrência de empresas ligadas à limpeza urbana que têm dominado essa faixa do mercado, em detrimento das especializadas em jardinagem.

Ainda temos uma pequena chácara, comprada na época da doação do Sítio Santo Antonio da Bica ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional) pelo Roberto. A chácara começou como viveiro de mudas e ainda continua como tal, porém atualmente a produção é muito incipiente. Funciona mais como um centro de distribuição de plantas onde temos alguns veículos como um caminhão e um furgão, que encaminham todos os materiais como plantas, ferramentas, terra e insumos para nossas execuções e manutenções. A produção da chácara hoje é bem pequena, devido à minha falta de interesse na comercialização de plantas. Lembro-me de Roberto com seu entusiasmo contagiante percorrendo diariamente as coleções do Sítio e logo em seguida ir para a Chácara, fiscalizando, perguntando por cada plantas, se elas estavam sendo adubadas direito, regadas e tratadas de doenças e pragas. Ele gostava de estar à frente, de ter o controle da produção. Nesta época as plantas que se especificava nos projetos ele as produzia com nossos jardineiros.

Houve uma época em que nós viajávamos com frequência em expedições e excursões para coleta de plantas, o que foi inviabilizado pelo rígido controle feito pelo Ibama (na época era o IBDF, não é?). Esse controle já existia no exterior. Todo regresso de viagem de Roberto era uma festa, quando trazíamos material “de monte” (risos). Essa regulamentação veio, eu acho, já na década de 1980, mas Roberto sempre tinha licenças para as coletas pelo IBDF. Quando o controle foi ficando cada vez mais exigente, Roberto, nas viagens ao exterior, obtinha licenças sanitárias do Ministério da Agricultura.

AAB / SR: Quantas viagens e expedições o senhor fez com ele? Qual foi a mais impactante?

HO: Fiz dezenas de viagens com Roberto. Às vezes somente a trabalho, muitas das vezes aliávamos o trabalho ao prazer e todas elas foram importantes para mim. Em cada viagem aprendia muito. Fizemos várias, principalmente pelo Brasil. Para o exterior também fizemos. Uma grande que me lembro foi para o Parque do Canaima, isso também por conta de um trabalho na Venezuela. Nós íamos muito à Venezuela, porque tínhamos muitos trabalhos lá. Nós projetamos em Maracaibo um Jardim Botânico. Esse foi um trabalho que eu não participei muito na implantação, porque eu ficava aqui no escritório na parte projetual. Nas viagens, o trabalho in loco foi acompanhado por outro sócio daquela época, José Tabacow. Todas as viagens, de certa forma, causaram certo impacto, porque cada local era um lugar diferente. Mesmo as épocas eram diferentes, ainda que estivéssemos repetindo o mesmo local, como por exemplo, Diamantina, onde nós fomos por diversas vezes. A cada vez que íamos para lá era uma emoção diferente.

AAB / SR: Mas o Roberto Burle Marx tinha um roteiro prévio dessas viagens ou era uma coisa que ia acontecendo livremente na medida em que vocês chegavam aos lugares e viam o que dava para fazer?

HO: Havia sempre um planejamento e um roteiro preestabelecido. Inicialmente, se faziam os primeiros contatos com alguns botânicos, mateiros e com as pessoas que informavam que em tal época e em tal região, determinadas espécies estavam em floração, ou que se encontrariam espécies novas para a coleção. Isso já bastava como motivo para uma expedição em busca dessas plantas. E eu ia com outros membros do escritório para documentar e fotografar. Muitas vezes aproveitando uma viagem de trabalho, fazíamos excursões nas redondezas, como em Porto de Trombetas, na Amazônia, quando íamos coletar plantas ou indicar quais as espécies eram necessárias para a implantação do projeto. Era um trabalho muito bom. Uma expedição poderia demorar de uma semana à quinze dias, dependendo do local e das condições. Às vezes até um final de semana, como diversas vezes fizemos, por exemplo, para a região de Angra dos Reis e Ilha Grande. Dessas viagens acontecia que algumas plantas ao serem trazidas para o Sítio não se adaptavam.

Geralmente o grupo era formado por Roberto, alguns botânicos, biólogos, arquitetos, colecionadores de plantas e interessados em vegetação, jardineiros e motoristas além de nós do escritório. As plantas coletadas eram embaladas e acondicionadas de forma a se manterem em condições até a chegada ao Sítio, onde eram plantadas em locais adequados, supervisionados por Roberto, para futuras multiplicações e aplicação em jardim e coleções. As plantas eram coletadas mais pelo interesse ornamental e para sua coleção, embora sempre considerando sua importância científica. A grande importância das viagens de coleta, para mim, foi o conhecimento da vegetação em seu habitat natural, cada qual em seu grupamento, se relacionando com o entorno. Foi também muito importante para mim a presença de botânicos e biólogos nas coletas, pois eles me ensinaram entre muitas outras coisas, o nome de plantas e suas peculiaridades e necessidades, como também a prática da coleta e de preparo de exsicatas para sua identificação botânica. Lembro-me que esse material preparado era enviado ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e às vezes uma cópia para especialistas no exterior. Após a morte de Roberto não fizemos mais expedições dessa espécie. Fazíamos motivados por ele com seu entusiasmo contagiante e porque ele era realmente a alma do grupo.

Koiti Mori, José Tabacow e Haruyoshi Ono no Escritório Burle Marx
Foto de autor desconhecido [Acervo José Tabacow]

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