Adalberto da Silva Retto Júnior: O arquiteto Rem Koolhaas, curador geral da exposição da 14ª Bienal de Arquitetura de Veneza, intitulada Fundamentals, este ano propôs uma reflexão sobre os princípios fundadores da arquitetura. Para os responsáveis pelos pavilhões nacionais, ele passou o tema “Absorvendo Modernidade: 1914-2014”. Como a equipe curadora do Pavilhão Brasileiro respondeu a esses 100 anos de modernidade?
André Corrêa do Lago: Havia tantos ângulos sob os quais nós podíamos abordar o assunto que muitas dúvidas surgiram desde o início. Decidimos simplificar e sobretudo, nos concentramos em contar uma história que pode parecer óbvia para alguns brasileiros mas está longe de ser assim fora do país. Nossa arquitetura não tem uma presença constante nos livros estrangeiros e achamos que o pavilhão devia apresentar uma narrativa que mostrasse as origens mas sobretudo a evolução da arquitetura brasileira, para ser possível aos estrangeiros entender seu processo de formação e, também, a riqueza e coerência do nosso modernismo.
ASRJ: Na entrada do Pavilhão principal de Fundamentals, existe um elenco daquilo que poderia se denominar: tratadística da arquitetura – começando pelo “The Ten Books on Architecture” do Vitruvius, até o livro “Elements of Venice” de Foscari. Obras como “Razões da Nova Arquitetura”, de Lúcio Costa; “A Forma na Arquitetura” de Oscar Niemeyer e “Depoimento de uma geração: arquitetura moderna brasileira”, organizado pelo Alberto Xavier, também complementam o acervo exposto, o qual totaliza 53 livros (no caso do livro de Viollet Le Duc, os nove tomos foram considerados como um único livro para efeito de contagem). De que forma ocorreu essa seleção: Koolhaas ou a curadoria brasileira?
ACL: Foi a Giulia Foscari do escritório do Rem Koolhaas que trabalhou mais a questão da arquitetura latino-americana. O Koolhaas queria – com toda razão – separar o tema dos pavilhões da Bienal do tema dos pavilhões nacionais. Acho que ele desenvolveu muito bem o conceito de 'fundamentals'!
ASRJ: Como o senhor e sua equipe vêem essa escolha?
ACL: Muito boa pois mostra três livros essenciais para o desenvolvimento interno da nossa arquitetura. No Pavilhão brasileiro, usamos como referências as publicações que mais contribuiram para a divulgação da nossa arquitetura no exterior e que permitiram que nós tivessemos papel central na arquitetura mundial durante alguns anos. Chamamos um setor da exposição de "autonomia e maturidade" o período entre o "Brazil Builds" de 1943 e o "Arquitetura Moderna no Brasil" do Henrique Mindlin (publicado em 1956 em francês, inglês e alemão). Chamamos também atenção para o "Report on Brazil" da revista inglesa Architectural Review, de outubro de 1954, primeiro conjunto de críticas ferozes ao nosso modernismo.